Depois de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil, o terceiro dos cinco novos imortais da Academia Brasileira de Letras vai ser conhecido nesta quinta (18), numa disputa entre o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho e os escritores e professores Joaquim Branco e Daniel Munduruku. Se for eleito, Munduruku será o primeiro indígena a entrar para o seleto clube da ABL.
“Isso não vai acontecer, lamento avisar”, afirma, peremptoriamente, um acadêmico com muitos anos de estrada na casa fundada por Machado de Assis. Apoiado efusivamente por Merval Pereira, Paulo Niemeyer deve se eleger “com bastante conforto” à cadeira 12 da Academia, vaga desde a morte do acadêmico, professor e crítico literário Alfredo Bosi, em abril.
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Além do apoio amplo, geral e irrestrito de Merval – o mais influente dos imortais mesmo antes de se eleger presidente, o que, nas cartas marcadas da ABL, acontecerá no mês que vem – Paulo Niemeyer (“Médico de mais da metade da Academia”), embrenhou-se, “apesar da timidez” numa campanha massiva entre os acadêmicos, encontrando-se pessoalmente ou telefonando para praticamente todos os votantes. Fez o que tinha de ser feito – assim como Munduruku.
Respeitado pela casa, o escritor indígena teve sua candidatura vista com bons olhos e seguiu os protocolos esperados por quem pretende entrar no grupo: enviou uma carta “gentil, educada e bem redigida” em que comunica sua candidatura e se apresenta aos imortais; mandou exemplares de seus livros a todos eles, para que conheçam sua obra, e colocou-se à disposição para conversar e trocar ideias, “sem ser impositivo”.
Graduado em Filosofia, doutor em Educação pela USP e pós-doutor em Linguística com ênfase na Literatura Indígena, na Universidade Federal de São Carlos, Munduruku conquistou a simpatia dos acadêmicos, que devem lhe dar dez ou doze dos 34 votos em jogo.
Com 52 livros publicados, ele será encorajado a tentar uma nova candidatura, em vaga que surja mais adiante. Agora em sua fase mais pop, a ABL quer mostrar que preza pela diversidade – e nada melhor que um indígena em suas cadeiras. “Não seria um favor. Ele é um intelectual, merece entrar. Só não é a hora ainda”, diz um outro imortal, mais um que pede anonimato ao falar com VEJA.
Joaquim Branco, diz o mesmo acadêmico, “com todo respeito”, carta fora do baralho. Corre o risco de ter, no máximo, dois ou três votos. “Talvez nenhum”, vaticina.