‘Princesa Isabel não merece ser cancelada’, diz Mary del Priore
Historiadora fala a VEJA sobre personalidade da abolição da escravatura no país
A historiadora Mary del Priore, experiente no resgate de personalidades do período imperial no Brasil, fala à coluna GENTE sobre a anacrônica onda de cancelamentos que não poupa nem a figura de Princesa Isabel. Neste 13 de maio, quando se completam 136 anos da assinatura da Lei Áurea, que pôs fim a mais de três séculos de escravidão no país, Mary relata a importância da princesa neste processo.
“Princesa Isabel não merece ser cancelada, aliás ninguém merece né… A história dela gira em torno do seu forte catolicismo. Ela tinha um sentimento de compaixão pelas escravizados. Tudo dela girava em torno da caridade e da filantropia com a Igreja Católica. Ela começa a se interessar pela questão da escravidão no país quando retorna ao Brasil com seu terceiro filho nos braços. A crise do açúcar já tinha esvaziado as senzalas, mas ela desconhecia a realidade. No diário de André Rebouças, de fevereiro de 1888, há registros da preocupação da princesa com a realidade dos negros. Nos meses seguintes, antes da assinatura da abolição, ela se envolveu mais com a questão. Os filhos dela chegaram a fazer um jornalzinho sobre o assunto. Destaco três grupos de mulheres importantes para a abolição. O primeiro é o das abolicionistas; o segundo é o das senhoras católicas, como Isabel; o terceiro é o das que faziam concertos, teatro e outras ações culturais para angariar fundos contra a escravidão. Isabel tinha comprovação ética e moral pela abolição. Mas é bom frisar que o movimento foi nacional, com muita participação de negros e negras. Isabel foi levada como folha na água a agir assim também”.
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