De dentes postiços protuberantes, cabeleira desalinhada, seios fartos caídos e palavras chulas à exaustão. Rodrigo Sant’Anna, 43 anos, defende sua mais famosa personagem, a estridente Graça que, após seis temporadas de sucesso no Multishow, chega aos cinemas na produção Tô de Graça – O Filme. Dirigido por César Rodrigues, conhecido por seu trabalho em Minha Mãe é uma Peça 2, o longa estreia na quinta-feira, 27. Das críticas que recebe, a que mais o chateia é a de que sua personagem seria um exemplo de racismo recreativo na TV, termo que designa ofensa de cunho racial disfarçada de piada. Rodrigo a defende como sendo uma inspiração da dura realidade que viveu num morro da zona norte do Rio. Confira a seguir o bate-papo com o convidado da semana no programa da coluna Gente no YouTube.
NEGANDO O RACISMO RECREATIVO. “Sou do povão, vim do Morro do Macaco (na Zona Norte do Rio) e isso não canso de falar, porque essa é a minha história. Não tem como mudar o curso das minhas criações se não for a partir da minha origem. E a (personagem) Graça faz parte deste enredo. Tive a sorte de ter mulheres na minha família de muita personalidade e guerreiras. Mas o que me chamava a atenção era elas mandarem nos homens da casa. Minha avó, que faleceu há cinco meses, estava presente nessa coisa. Veio da Bahia, ficou com um caminhoneiro e teve a minha mãe, minha mãe nunca conheceu o pai. Ela teve 10 filhos, quando chegou no Rio foi pedinte. Quero ainda fazer um filme da minha vó. Essa mulher me deu recursos para criar a Graça. As minhas ideias vêm da minha família”.
RINDO DA POBREZA. “Faltam histórias de comunidade de forma divertida. Tudo o que a gente viu até hoje é relacionado a tráfico, a tiro… Mas as minhas memórias são de diversão, de famílias daquele universo e que também eram felizes independentemente do caos paralelo.
MUNDO REAL. “Peço desculpas aos críticos se não tenho uma outra referência. Quando estava lá pulando esgoto a céu aberto na frente do meu portão, ninguém foi pular por mim. É fácil a gente criticar uma realidade sem propriedade para falar, vivi tudo isso. Essa é a minha história. Me perdoe se não tive uma história no Leblon, como as do Manoel Carlos, para contar, esse é o meu Leblon. E me orgulho do meu Leblon”.
PASSADO A LIMPO. “Eu mesmo fiz coisas que não repetiria hoje em dia, e já mesmo lá atrás, tinha um pensamento crítico que hoje faria diferente, mais atento a questões. Ao mesmo tempo sinto uma evolução, o fato de eu ser gay… Antigamente diversos atores tinham dificuldade de falar de sua sexualidade, eram postos de lado. A gente evoluiu nesse sentido. Em contrapartida, há países que estão tornando o fato de ser gay algo digno de prisão. Não tenho a menor pretensão de mudar o mundo. Fico aqui tentando, a partir das minhas histórias, conseguir furar algumas bolhas. Porque acho machista o humor ainda hoje. A grande parte dos humoristas é de pessoas casadas, com filhos, é óbvio que vai falar desse universo”.