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Selfies, catuaba e carros de som: o que rola no baile funk de Paraisópolis 

Festa reúne entre 5 000 e 10 000 jovens aos finais de semana

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 dez 2019, 17h57 - Publicado em 2 dez 2019, 15h30
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  • Cenário da morte de nove jovens na madrugada do dia 1º de dezembro (uma investigação em curso promete responder se a culpa foi de uma ação trágica por parte da Polícia Militar), o Baile da 17, ou DZ7, como escrevem os frequentadores, existe há mais de dez anos e ocorre em algumas das principais vias da favela de Paraisópolis, entre elas as ruas Ernest Renan, Major José Marioto Ferreira e Dr. Francisco Tomás de Carvalho.

    O pancadão reúne entre 5 000 e 10 000 pessoas todos os fins de semana, mas há casos em que o público chega a 20 000. Vem gente de cidades como Rio de Janeiro, Mogi Mirim, Atibaia, Ribeirão Preto, Jandira e Amparo, além de jovens de bairros de elite de São Paulo, como Jardins, Pinheiros e Perdizes. Devido ao fluxo intenso de visitantes, surgiu até um ponto de táxi nas imediações de uma loja das Casas Bahia na região para levar para casa quem mora distante dali. O baile acontece entre sexta e domingo, de forma ininterrupta, e inviabiliza a passagem de carros por várias ruas. O ápice do volume de frequentadores se dá na madrugada de sábado para domingo, justamente quando ocorreram as mortes.

    O evento em si não é organizado por um time de produtores — ao contrário do Rio de Janeiro, onde os bailes ocorrem em quadras ou nas ruas, com um sistema de caixa de som único tocando o mesmo setlist. Em Paraisópolis, o caos musical é a graça da festa.

    Carros com sons equipadíssimos com caixas potentes e jogos de luz de neon estacionam pela via e vielas do bairro. Muitos deles usam os pontos de energia elétrica de bares e de outros estabelecimentos comerciais para garantir o funcionamento da sonzeira. É possível escutar mais de três sons diferentes em determinados pontos, em uma babel musical. Os jovens mudam de ponto de acordo com o som de determinado carro. A migração de som para som acontece o tempo todo, numa espécie de passarela do funk. Boa parte do comércio das vias principais fica aberto, sem falar nos inúmeros ambulantes. Sabe a entrada de estádio em dia de partida de futebol? É a mesma coisa. Alguns moradores vendem gelo, água de coco e chocolates na porta de casa, já que dormir com o som ensurdecedor vindo da rua é praticamente impossível.

    TOLERÂNCIA - Vitória Monforte, no Baile da DZ7, em Paraisópolis: “Ninguém me olha torto por eu ser transexual”
    Vitória Monforte, no Baile da DZ7, em Paraisópolis: a DJ transexual relata tolerância das minorias no maior pancadão de São Paulo (Luiz Maximiano/VEJA)
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    O público do baile é jovem ou jovem adulto. Há drogas consumidas ao ar livre, sobretudo lança-perfume baforado em garrafa pet e cigarros de maconha. Não há venda de entorpecentes na frente de todo mundo. A droga é adquiridas em “bares” controlados pelo PCC, espalhados por diversos pontos do bairro. Não há traficantes andando com armas aparentes entre o público. No Baile da DZ7, tal qual em baladas e festas de elite, jovens ficam o tempo todo com o celular na mão fazendo selfies e stories – não há risco de fotografar algum traficante em ação. Não existe roubo ou furto durante o pancadão, até para ele ser um chamariz de público e turistas. Catuaba é a bebida da moda, vendida pelos ambulantes por 12 reais o litro.

    Manifestação contra a violência da Polícia Militar
    Moradores de Paraisópolis realizam uma manifestação contra a violência da Polícia Militar: nove jovens mortos (Marlene Bergamo/Folhapress)

    O consumo de droga não é exclusivo de baile funk, evidentemente. Em raves, as festas de música eletrônica, boa parte do público dança embalado por drogas sintéticas como ecstasy e MDMA. Essas festas contam com vendedores de drogas que entram com sacos cheios de materiais para serem vendidos. O mesmo vale para algumas praias. Em Ipanema, em pleno Posto 9, há vendedores que passam oferecendo cigarro de maconha, cocaína e ecstasy. Para Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis, o baile funk toma o lugar de uma completa ausência de política de lazer no bairro. “Os equipamentos de lazer simplesmente não existem”, diz.

    Os jovens mortos em uma ação da PM tinham entre 14 e 23 anos. São eles Gustavo Cruz Xavier, 14, Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16, Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, Deniz Henrique Quirino da Silva, 16, Luara Victoria Oliveira, 18, Gabriel Rogério de Moraes, 20, Eduardo da Silva, 21, Bruno Gabriel dos Santos, 22, e Mateus dos Santos Costa, 23. Há outros jovens internados. A maior chance é de que todos tenham morrido em decorrência de pisoteamento após terem sido encurralados durante uma ação policial. Em nota oficial, o comando da PM afirmou que, na noite da tragédia, os soldados reagiram ao ataque de bandidos a bordo de uma moto. “A moto fugiu em direção ao baile funk, ainda efetuando disparos, ocasionando um tumulto entre os frequentadores do evento”, afirma a nota. 

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