Zeca Camargo : ‘A TV aberta está em uma encruzilhada’
À coluna GENTE, apresentador fala sobre nova fase da carreira, de paternidade e planos de aposentadoria

Um dos rostos já conhecidos que passou a integrar o elenco de jornalistas da Times Brasil, emissora licenciada da CNBC recém-lançada no país, Zeca Camargo, 61 anos, ganhou uma missão almejada por muitos; é o âncora do programa Passaporte, onde pretende expandir sua cartela de 117 países já visitados. “Um dos planos para 2025 é me organizar para fazer três viagens por ano”, adianta o apresentador à coluna GENTE. Na conversa, ele faz um apanhado da carreira, que começou há quase 35 anos, na MTV, analisa o momento atual da televisão aberta, fala sobre a repercussão do seu lado DJ e dos planos de aposentadoria.
Como surgiu o convite da Times Brasil? Imagino que, dentro do perfil da emissora, viagem é uma coisa que chama a atenção do público. E, hoje em dia, depois desses 34 anos [de carreira], você pensa em viagem e televisão, meu nome é um dos primeiros que surge.
Por que saiu da Band? Saí da Band em junho, não houve renovação do contrato. O programa diminuiu, foi para outro horário… Não sei exatamente o que aconteceu, até hoje não entendi a minha saída de lá. Me vi, de repente, com agenda super livre, que comecei a aproveitar. Fui para Paris e fiz uma série. Depois voltei a fazer uma campanha da Visa sobre viagens durante as Olimpíadas, que já tinha feito no ano passado. Isso chamou a atenção do Douglas [Tavolaro], e o convite chegou. Uma coisa levou a outra.
Ainda há medo de se arriscar em um projeto novo? Se tivesse, não teria saído lá atrás para entrar na MTV. Você pode imaginar que doideira que era em 1990. Brinco sempre que deram a chave para um monte de moleque fazer uma TV ali. Quando fui para a TV Globo fiquei muito inseguro, porque falava com o Brasil todo, não falava com um segmento especificamente, mas com todos. Eu tinha mesmo frio na barriga. Sempre há insegurança, mas faz parte do que a gente está fazendo.
A TV Globo passa por momento de mudanças, como a saída do Boninho. Como analisa essa transição? Está em uma encruzilhada. A TV aberta tem que se perguntar para onde ela vai. Porém, não acho uma coisa ruim, pelo contrário. É inevitável uma transição, a televisão é dinâmica. Conheço o Boninho com uma certa intimidade, é uma pessoa incrível. Por isso, não me assustou nem um pouco ele ter saído. É um cara inquieto e criativo. É o melhor diretor com quem trabalhei, e o pior também. Porque é maluco. Acho que [a saída] é uma prova de coragem. Não conversei com ele, mas saiu para inventar outra coisa. E se alguém tem cacife para inventar alguma coisa, esse alguém é o Boninho.
Se ele te chamasse para fazer alguma coisa, iria? Ele é meu parceiro, mas nem sei o que está bolando. Mas gostaria de trabalhar com ele de novo.
O senhor ainda assiste ao Fantástico? Assisto, mas não direto. Hoje é um desafio ver ao vivo, porque boa parte das pessoas vê como quer: no canal da televisão, Youtube, Instagram… O TikTok do Fantástico é ótimo, dá uma noção do que teve no programa.
Há crise de audiência na TV aberta? Eu acho engraçado a questão de que “a audiência caiu”. Me assusta a própria imprensa cobrar, quando sabe que a audiência hoje em dia é pulverizada. Ninguém, nem o órgão de aferição, descobriu ainda o quanto que a audiência é além do número da máquina. Isso agora é um dos registros. Os programas repercutem complementarmente nas redes sociais. As novelas já descobriram isso. Em Mania de Você [novela das 9], você vê claramente momentos “instagramáveis”, feitos sob encomenda para a internet. E isso acho uma atitude inteligente. A televisão, que depende desses números para a área comercial, já está vendo que vale a pena mostrar os números da rede social.
Fale mais sobre o programa que o senhor comanda na Times Brasil. O Passaporte me dá uma mobilidade absurda. Por enquanto, é gravado, pois, nesse momento, o foco da Times Brasil é a notícia, o hard news. Esse é um programa de grade. Estamos usando o material da CNBC de fora, tenho sido apresentador, para que em meados de 2025 a gente possa começar a produzir conteúdo exclusivo. E assim possa viajar pelo Brasil e mundo.
Por que investir nesse segmento? É o que gosto de fazer. Isso é o que faço nas redes sociais. Recentemente, fiz uma minissérie no Instagram no Norte e Nordeste. A minha aposentadoria será viajando e estou perto disso. Ainda tenho um gás, mais cinco anos, mas estou chegando lá e depois só vou querer viajar sem compromisso.
Já viajou para quantos países? Foram 117 países. Todo ano ia para quatro países, mas veio a pandemia e mudou. Um dos planos para 2025, até por conta do Passaporte, é me organizar para fazer três viagens por ano para conhecer novos territórios.
Que lugar gostaria de conhecer? Quero muito ir ao Congo, quero conhecer os gorilas do Congo. É projeto antigo. Gostaria de ir ao Irã, mas agora está fora de questão. Tentei nos anos 2000, mas já estava complicado. É destino dos sonhos. E também gostaria de ir para um lugar exótico, o Tahiti. E tem lugares no Brasil que nunca fui e tenho vontade. Só esse ano fui cinco vezes para Belém, mas não conheço Fernando de Noronha. Quem sabe em 2025?
Qual foi o lugar que mais gostou? Tailândia. Eu acho incrível a Europa, Estados Unidos, América Latina… Mas quando você passa para o Oriente Médio, é diferente. Tenho uma paixão pela Tailândia, a natureza, diversão e cidade. Gosto de Bangkok. Eu gosto de cidade, moro em São Paulo, gosto de bagunça. Bangkok é São Paulo com esteroide. Nesse plano de aposentadoria, vou passar um ano lá.
Mas já planeja a aposentadoria? As pessoas ficam horrorizadas, mas tenho 61 anos. Sou novo, tenho gás, mas é impossível na minha idade não pensar nisso, em puxar o freio de mão para aproveitar um pouco. Quando falo em descansar, é ir para Veneza e ficar de olho na gôndola e não no celular para fazer conteúdo. É essa aposentadoria que eu quero.
Recentemente, viralizou um vídeo seu como DJ. O que achou da repercussão? Maravilhosa. Fiz isso a vida inteira, era DJ de fita cassete. Em 2009, fui DJ do Londra, bar do [Hotel] Fasano, no Rio. Essa festa que viralizou foi em Tiradentes (MG), eu já tinha tocado no ano passado. Mas toco para mim, se você quiser dançar, dança. Nas imagens mesmo, apareço dançando para me divertir. Mas isso está longe de ser uma profissão. As músicas são tão boas, que resistem até a um DJ de fim de semana como eu. Mas é puro prazer.
Recebeu convites depois para tocar? Muitos. Se eu quisesse, faria, mas não tenho agenda. Teve uma festa agora em Porto Alegre (RS), que não pude fazer. Não é isso que faço. Uma coisa legal é fazer disso uma ocasião especial.
O senhor é muito reservado com sua vida pessoal. Como manter a privacidade em tempos de redes sociais? É a parte menos interessante da minha vida. Tem tanta coisa que faço que é mais interessante, que isso acaba acontecendo. Entendo que rede social é muito em cima disso, mas raramente você me vê nas redes sociais com amigos, minha família ou coisa assim. É um jogo complicado. Quando tem algum relacionamento, mesmo que seja com amigos, acho traição expor. Sou uma pessoa pública, não os meus relacionamentos, não os meus amigos.
O senhor não tem filhos. É por conta dessa liberdade de viajar? Será? Quando tinha 40 anos, eu falava que era hora de ter filho, mas se tivesse hoje, me parece um projeto de vaidade. Mesmo com os avanços da ciência, por quanto tempo aproveitaria esse filho ou essa filha? Essa paternidade acaba vindo de outras maneiras. Tenho sobrinhos, posso focar nas crianças do mesmo jeito. Adoro criança, sou Papai Noel todo ano em uma creche no Rio e isso me emociona. É um jeito, talvez, de viver a paternidade.
Além de viajar, qual é o seu maior hobby? Escrever, por incrível que pareça. Estou com três projetos agora: dois livros e um texto para teatro. Fiz a biografia da Elza Soares, que é uma das coisas que mais me orgulho de ter feito, e, durante a pandemia, fiz um livro de contos que refletem aquilo que estávamos vivendo. Quando não estou viajando, estou escrevendo. Agora estou escrevendo um livro e uma peça de teatro sobre velhice. Estou olhando para os pais. Na minha geração, os pais já estão indo embora. E eu preciso estar preparado para isso.