Zélia Duncan: ‘Sou de uma geração extremamente reprimida’
Cantora participou ao lado da irmã, Helena, de um debate na Flip

Um encontro inédito aconteceu na Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, na manhã desta quinta-feira 31. A cantora Zélia Duncan e a irmã Helena Duncan estiveram pela primeira vez no mesmo palco. Helena, que lançou o livro Manual do Monstro; e Zélia, com seu Benditas Coisas Que Não Sei, músicas: memórias e nostalgias felizes, falaram sobre seu processo criativo e como a arte moldou suas identidades. Em dado momento, Zélia comentou sobre ser voz ativa para outras mulheres e à comunidade LGBTQIAPN+
“Sou de uma geração extremamente reprimida, nascida 1964. Eu e minhas amigas brincamos que eu virei essa pessoa escancarada e nem todos foram juntos, nem todos viraram também. Fui entendendo aos poucos que palavras como visibilidade e orgulho salvam vidas. Assumir-se, antes de mais nada, é importante para você mesmo. Aos 60 anos ainda luto e falo contra machismo, LGBTfobia, opressão contra as mulheres… é muito trabalho para quem tem mais de 60 anos e trabalha desde os 16. As pessoas entram no meu camarim e comentam: ‘foi Jesus que fez essa música, fez você criar essa música’. Eu rio e digo que assim seja, porque respeito todo tipo de opinião. Agora, quando comentam que estão criando algo novo, principalmente essa geração atual, eu recomendo que ouçam Tom Zé (risos)… A arte só existe quando é compartilhada, não se preocupem e não se percam com oportunidades de ouvir o outro, porque aí você perde oportunidade de aprender. (…) A música é portátil, você leva para qualquer lugar, para o banho, para o carro, para a rua, a música te invade e não te respeita. Já o livro, as pessoas demoram a ler, amigos queridos próximos, por exemplo, não leem os meus livros de imediato, demoram, eu tive que me acalmar como escritora (…). Eu não fico perguntando se as pessoas leram o meu livro ou ouviram minha música”, disse a cantora em participação na Casa Caixa de Histórias, na programação paralela da Flip.
* O colunista viajou a convite da Motiva.