As várias personalidades musicais de Paulo Szot
Único brasileiro a ganhar um Tony (o Oscar dos musicais), o paulistano faz apresentação única na cidade com renda revertida para uma entidade beneficente

Paulo Szot é um cantor brasileiro de múltiplas facetas. No campo operístico, o barítono de 50 anos brilhou em montagens como O Nariz, de Shostakovich, regido pelo russo Valery Gergiev na Metropolitan Opera House, de Nova York, e atuou ao lado do tenor francês Roberto Alagna e da soprano russa Anna Netrebko respectivamente em Carmen e Manon, outras duas produções da casa de ópera americana. No universo dos musicais, Szot angariou um prêmio Tony (o Oscar da categoria) pela sua performance em South Pacific, e trabalhou na versão brasileira de My Fair Lady. Nesta quinta, no Blue Note SP, ele vai exibir outra de suas personalidades musicais – a de intérprete e entertainer. Vai desfilar um repertório de canções da parceria entre Tom Jobim e Frank Sinatra, canções da Broadway e animar a plateia entre um número e outro. “Comecei a agregar esse tipo de show na minha carreira em 2010 e aprendi a incorporar essa experiência na minha vida artística”, diz. A apresentação começa às 22h30 e a renda será revertida para o Ciam, entidade que cuida de pessoas com deficiência intelectual. Os ingressos poderão ser comprados através dos telefones (011) 97500-8097, 3760-0063, 3760-0068 ou pelo email ciam@ciam.org.br
A paixão pela música de Tom Jobim, explica Paulo, nasceu ao mesmo tempo em que o início de seu relacionamento com o canto lírico. “Minha mãe tinha todos os discos, meu irmão tocava as canções de Jobim no violão”, lembra. Mas Szot, inicialmente, pensou em ser bailarino – sonho abortado após sofrer uma lesão no joelho. O barítono voltou-se para o universo da ópera. Em 2008, aceitou fazer um teste para South Pacific, musical da dupla Rodgers & Hammerstein. O personagem Emile de Becque, um fazendeiro francês que se apaixona por uma enfermeira americana durante a Segunda Guerra Mundial, foi vivido com nos palcos pelo italiano Ezio Pinza (1892-1957) e no cinema pelo também italiano Rosano Brazzi (1916-1994). Szot, contudo, mostrou ter mais sex-appeal, talento para atuação e voz (no caso de Brazzi) do que seus antecessores – como se pode notar na sua interpretação de Some Enchanted Evening, música chave do personagem.
O sucesso de South Pacific rendeu ao cantor convites para outros musicais. “Tive de recusá-los porque contratos de ópera são assinados com dois anos de antecedência. Não havia espaço na agenda”, explica. Outras ofertas foram aceitas de bom grado. Szot se apresentou no Cafe Carlyle, reduto que foi do crooner americano Bobby Short (1924-2005) e que atualmente tem no seu cast o cineasta e clarinetista diletante Woody Allen. Quatro anos atrás, criou um espetáculo dedicado ao repertório dos dois discos lançados por Tom Jobim e Frank Sinatra. Inicialmente marcado para o 54 Below, em Nova York, deu tão certo que Szot o levou para outras peças – entre elas a cidade de Palm Beach, na Flórida, e em Madri, onde foi apresentado numa casa de ópera.
Os musicais ainda fascinam Paulo Szot. Ele alterna suas performances no universo da ópera, com uma “escapada” para esse mundo, que muitas vezes sofre preconceito do público mais erudito. Recentemente, viveu Perón numa produção de Hal Prince (o mentor de espetáculos como O Fantasma da Ópera e West Side Story), para a Ópera da Austrália. Sua Evita era Tina Arena, uma das cantoras pop prediletas dos australianos. Szot fez ainda a leitura de um musical baseado em Chéri, livro da francesa Collette, ao lado de Vanessa Williams. “Há outros projetos que serão revelados no momento certo”, despista. Enquanto o mundo dos musicais não reclama o talento de Paulo Szot, a performance no Blue Note SP é o melhor momento de ver em ação um dos grandes intérpretes brasileiros.