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Musical de Cole Porter é tão classudo quanto as criações do compositor

Peça em cartaz no Teatro Porto Seguro (São Paulo) conta a história do mestre americano da canção sob o ponto de vista de seis mulheres

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 jun 2019, 19h24 - Publicado em 28 jun 2019, 15h56

Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava, atualmente em cartaz no teatro Porto Seguro, em São Paulo, (https://www.teatroportoseguro.com.br), me provoca raiva. Não pela qualidade do espetáculo, que é ótima, mas sim porque demorei mais de uma década para conhecê-lo e me aproximar de seus autores, Charles Möeller e Claudio Botelho, uma dupla que é sinônimo de competência no universo musical. O show nasceu de uma ida dos diretores a Nova York, em 1999. Entre tantas opções de diversão, Möeller e Botelho assistiram a uma remontagem de Kiss me Kate, produção que havia acabado de completar meio século de sua estreia. Escrita por Bella e Samuel Spewack, Kiss me Kate é uma versão americanizada de A Megera Domada, peça do dramaturgo inglês William Shakespeare. As canções de Porter, claro, dão um colorido à trama e pelo menos duas delas foram incorporadas ao repertório dos grandes intérpretes de jazz. São elas So in Love e Too Damn Hot.

https://www.youtube.com/watch?v=FWaD45nL-Zk

Mas voltamos à criação desses dois chiques artistas brasileiros. Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava estreou no ano 2000, ficou em cartaz por quatro temporadas e traz a história do compositor americano contada por seis das principais mulheres de sua vida. São elas a mãe, Kate (Bel Lima), que sempre sonhou um futuro grande para o filho; a agente, Bessie Malbury (Alessandra Verney), responsável pela lapidação da indústria do teatro musical e produtora de See America First, primeiro espetáculo de Porter; a mulher, Linda (Stella Rodrigues), dama da alta sociedade que caiu no luxo ao lado do marido e fazia vista grossa à sua homossexualidade; Elsa Maxwell (Analu Pimenta), colunista social que “vendeu” o autor para a alta -roda; Ethel Merman (Marya Bravo), cantora símbolo das produções de Porter, e a misteriosa Angélica. O compositor nunca é visto em cena – surge na narração em off de Botelho.

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Malu Rodrigues e Cole Porter: personagem misterioso (Dan Coelho/Divulgação)

Cole Albert Porter (1891-1964) se consagrou no jazz, mas era adepto de um estilo de vida rock’n’roll. Sua vida foi marcada por excessos, a exemplo dos grandes nomes do showbiz dos anos 60, 70 e 80. Ele adorava o luxo, fez sexo com homens e mulheres (mais com os primeiros do que com as segundas, diga-se) e tomou tanta heroína quanto Kurt Cobain. Embora para esse quesito o compositor tivesse uma justificativa, digamos, nobre. Porter feriu gravemente a perna durante um bizarro acidente de cavalo, no ano de 1937. A droga era usada para aliviar as dores que sentia – ele viria a amputar a perna no ano de 1954. Porter também falou de sexo e drogas, mas sempre com muita classe. Canções como Let’s Do It e I’ve Got You Under My Skin são bons exemplos de como esses temas fizeram parte de seu dia a dia musical. Porter também foi um Pantagruel das composições: estima-se que ele tenha mais de 800 canções em seu repertório. Mesmo quem nunca se interessou por jazz ou pelas obras-primas da música americana já deparou com Every Time We Say Goodbye, Night and Day ou Beguin the Beguine, cantados até por artistas de outros estilos musicais.

Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava é tão classudo quanto as criações do compositor e das obras posteriores da dupla que o concebeu. É um exercício e tanto para as seis atrizes que tentam recriar, à sua maneira, a aura de luxo e riqueza que marcou a alta esfera americana no início do século XX. Não que elas não tenham bagagem para isso. Alessandra e Stella, que participaram da primeira versão, estão ótimas na composição de suas personagens, bem como Analu, que dá um tom de humor ao veneno da colunista Elsa, e Bel Lima faz um belo trabalho como a mãe de Porter (especialmente nos momentos mais ranzinzas). Marya Bravo e uma Malu Rodrigues estalando de beleza e carisma ficam com a parte mais complicada do espetáculo. Não apenas porque suas interpretações correm o risco de cair numa caricatura (Ethel era exagerada do jeito que é mostrada em cena), mas também porque são mais exigidas como cantoras. Mas aqui não há melhor ou pior. São seis grandes profissionais fazendo uma homenagem a um dos maiores criadores de canções do universo. Quanto ao ódio que toma conta da minha alma, para ele não há alternativa senão assistir a sessões contínuas de Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava. Que aplaca não apenas sessões de fúria como traz alívio para a alma.

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