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Walcyr Carrasco

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Amigos caloteiros

De correntes virtuais a pedidos de doação, é duro salvar o bolso

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 abr 2025, 08h00

Meu pai contava que houve um tempo em que fio de bigode era documento. Garantia o negócio. Se isso existiu, desapareceu junto com os dinossauros. Hoje, um negócio apenas apalavrado é mera intenção. E olha lá. Somos criados com crenças que a vida destrói. Há alguns meses, um amigo me ligou desesperado. Estava endividado e o credor até ameaçara partir para a violência. Garantiu que em breve teria liquidez, pois estava vendendo sua empresa. Emprestei. Meses depois, ele não pagou. Ameacei processar. A resposta: ele tinha tantos processos que um a mais “tanto faz”. Ou seja: não estava nem aí. Nunca recebi, nem mais o vi. Fiquei chocado. Como alguém que pede salvação, em uma situação de risco, depois não dá nem um oi? Mais uma vez aprendi: aquele ditado segundo o qual ao emprestar perde-se o amigo e o dinheiro está certo.

Quando eu era menino, meu pai sofreu dificuldade devido ao calote de um sócio. Passamos maus bocados. Ele mesmo nunca quis ser caloteiro, e vendeu o que tínhamos para não ter o “nome sujo”. Hoje em dia, nem se entende muito bem o conceito de “nome sujo”. Dá-se um calote aqui, outro ali, os amigos se afastam, logo o devedor arruma outros e, no final, o sujeito deve para mais gente ainda. A palavra dada não tem mais o sentido de antigamente. Já cansei de ver funcionárias minhas chorando porque emprestaram o cartão de crédito para uma amiga fazer compras. A amiga não paga e, quando elas descobrem, estão com uma dívida inesperada. “Nome sujo.” Muita gente pode achar bobagem essa história de “nome sujo”. Mas quem tem sabe o drama que é. Não se consegue fazer crediário, o banco bloqueia o cartão…e por aí vai. Um amigo emprestou o nome para a namorada comprar um carro. Quando viu, estava no vermelho no banco. E o carro? Foi levado pela dívida, mas não cobriu o total, e vieram juros etc… Eu comentei com ele: se ela perdeu o próprio nome, por que não perderia o seu?

“Para muita gente, a amizade é investimento. Na primeira chance, a pessoa não paga. E adeus, amizade”

Essa prática de emprestar o nome para o outro gastar é uma das mais perigosas que há. O devedor frequentemente perde a amizade mas não paga. O dono do nome que se vire. No caso do meu amigo, perdeu também a namorada, que até se ofendeu com as cobranças. Quando recebo um pedido de empréstimo, vou pela lógica: perderei o amigo quando ele não pagar. Então, o melhor é não perder o dinheiro. Digo logo que não, e a vida continua.

Já recebi muitos pedidos de empréstimo. Nos últimos tempos, são mais pedidos de doação, sem disfarce. Há correntes na internet para pagar operações, montagens de espetáculos… os mais variados temas. Meu primeiro gesto é querer ajudar. Depois descubro que o suposto produtor costuma dar o golpe e as peças nem são apresentadas, que o suposto doente está vendendo saúde etc., etc. Outro dia abri o celular e havia cinco pedidos de empréstimo!

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Para muita gente, a amizade é investimento. Na primeira oportunidade, a pessoa não paga a dívida. E a amizade? Adeus, porque ela realmente nunca existiu.

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2025, edição nº 2939

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