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Walcyr Carrasco

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Famoso quem?

O brilho fugaz (e bem pago) das celebridades da internet

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h16 - Publicado em 22 jan 2021, 06h00

Famoso, antes a gente sabia quem era e pronto. Eu só me atrapalhava no Prêmio Nobel, com uns cientistas e literatos ícones. Descobriu o que na física? Escreveu um poema em que língua? Ultimamente, tem tanto famoso que já não sei o nome de todos. Antes, a popularidade era fruto da participação em programas de televisão, novelas… Todos os anos, de dezembro a janeiro (agora!) vivo uma fase tétrica. São inúmeras as pessoas que me pedem ajuda para entrar no BBB (de fato, o BBB tem uma seleção rigorosa, comandada pelo Boninho). Como eu trabalho na Globo, acham que posso ligar: “Botem fulano lá…” A fama trazida por um reality como o BBB é um ativo em si. Já foi passaporte para uma ótima carreira de atriz, como no caso da Grazi Massafera. Para as urnas, como para o Jean Wyllys. Sabrina Sato se tornou apresentadora. Se não eram tantas as portas que se abriam, ainda havia uma boa temporada de presenças vips bem remuneradas. Mas surgiu uma nova espécie de fama, a da internet. São famoses (famosas e famosos) que não sei quem são, o que fazem exatamente… Influencers! E, se alguém me explicar o que significa exatamente influencer, ganha um seguidor. Faturam fortunas. Uma influencer com cerca de 30 milhões de seguidores (sim, 30) cobra em torno de 700 000 reais por campanha de produtos, principalmente de beleza. Outra, 110 000 por um único post. São vários por semana. Famosos do Instagram têm aviões, moram em mansões. No mundo inteiro, as fashionistas influencers têm lugares privilegiados nos desfiles de alta moda. O próprio BBB já traz influencers — como na edição passada. Há influencers que lançam livros, receitas de cozinha, programas de fitness e, claro, os que mostram os bastidores da vida artística e intimidade de… influencers! Há ídolos, como Neymar, com 145 milhões de seguidores. Mas é excepcional. Influencer de sucesso, como Kéfera, tem 13,2. Carlinhos Maia, 21,2 e Felipe Neto, 13,3 no Instagram mais 41,1 no YouTube. Ah, sim, Whinderson Nunes, 48,8 só no Instagram. Há muitos e muitas na casa dos milhões, como a polêmica Gabriela Pugliesi, com 4,3 milhões. É uma enormidade de seguidores, que atraem campanhas, patrocinadores, negócios. E, se um influencer de peso ainda faz um reality, vai às alturas.

“Se alguém me ensinar o que significa exatamente ‘influencer’, ganha um seguidor”

Um dia acordei lotado de mensagens raivosas porque eu não colocaria determinada celebridade da internet na novela. Alguém havia publicado que eu havia retirado a moça do elenco. Ameaçavam me boicotar, me destruir. Só um detalhe: eu não tinha a menor ideia de quem fosse a garota. Era tudo fake news. Não reconhecer alguém famoso é no mínimo indelicado. Blasé. Mas são tantos, tantos novos famosos, de tantas áreas… O jeito é perguntar, por mais constrangedor que pareça: “Famoso quem?”. Se for escritor como eu, ou cientista, tudo bem, estamos acostumados a não ser reconhecidos. Mas basta ser alguém que postou um nude bombado para se tornar um inimigo mortal caso a gente não se curve, ofuscado pela fama.

Publicado em VEJA de 27 de janeiro de 2021, edição nº 2722

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