Acordo. Não como. Desabo em uma poltrona. Pego um livro, não leio. Estou sem forças. O máximo que consigo é trocar mensagens pelo WhatsApp. Continuo sem comer. Tomo um café. Um chá. Aguardo. Tomo mais café. Vou desfalecer, sei que vou! Mas completo dezesseis horas sem comer. Eu me atiro sobre uma porção minúscula de mamão fatiado. E um copo de leite de amêndoas. Só depois, o dia começa.
Tudo começou quando elogiei o corpo esguio de minha amiga e parceira profissional Amora. Animada, contou seu segredo: jejum intermitente. Traduzindo: fica-se muitas horas sem comer por dia. (Alguns só fazem duas ou três vezes por semana.) O metabolismo acelera. Gorduras queimam. Inicialmente, como tantas coisas na minha vida, fui na loucura. Comecei com catorze horas. Primeira semana, 1 quilo. Segunda, 2. Terceira, 3! Na quarta, resolvi comemorar com uma feijoada, pra começar. Readquiri rapidamente os quilos perdidos e ganhei alguns mais!
De tempos em tempos, um método de emagrecimento entra em moda. Já passei por vários. Tive uma nutricionista que me dava quatro nozes à noite, como jantar. Emagreci no começo, e aumentei a quantidade de nozes. Quando comecei e triturar meio quilo entre os dentes, a velha e conhecida barriga voltou a seu lugar. Outra profissional me encheu de proteínas e eliminou os carboidratos. Em alguns dias, peguei horror até de pernil e torresmo! Também teve a do frango com batata-doce. Enjoei, até hoje tenho restrições a frango. São muitos os regimes, dietas que funcionam. Principalmente nas livrarias, e as editoras faturam muito com livros de como emagrecer.
Antes do advento da Covid, notei uma aglomeração de senhoras rechonchudas numa livraria. Curioso, quis saber do que se tratava. Eram nutricionistas no lançamento de um livro de uma colega. Nutricionistas gordas? Juro. Antes de me pesar, peso a nutri primeiro.
“Após dezesseis horas de estômago vazio, devorei churrasco de abobrinha. Sabem que até achei delicioso?”
Finalmente, encontrei uma endocrinologista magra e linda. Óbvio, voltei para casa com as normas do jejum radicalizadas. Na primeira fase, eram catorze horas. Agora, no mínimo dezesseis. Um amigo médico disse que o melhor seria dezoito!
— Logo você acostuma. Corra na esteira sem comer, funciona mais.
— Socorro!
Os benefícios do jejum intermitente são muitos, afirma-se. Dá um up em toda a saúde. Tem sentido. A própria Bíblia não aconselha o jejum? Sabedoria dos antigos. É uma norma dietética milenar.
Antes, nem tinha ouvido falar. Agora, parece que todo mundo está fazendo. É tendência. Tem até aplicativo de jejum, com cálculos de queimas calóricas. Outro dia liguei para um amigo. Com voz fraca, confessou que completava as vinte horas sem comer. Pior que é magro.
Estou há um mês no retorno ao tal jejum. Depois de três semanas, emagreci 1 quilo. Inocente, quis comemorar. Ataquei um sanduíche de pão com mortadela, que adoro. Mais uns três pedaços de pudim. Pronto! Engordei 1 quilo e meio. Fiquei pior que antes! A barriga, invicta. Dá-lhe jejum, jejum! Outro dia, após dezesseis horas de estômago vazio, devorei um churrasco de abobrinha. Sabem que até achei delicioso?
Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736