Uma luz me chama atenção. É a Sophia Loren se olhando no espelho. Ela sorri, e se pergunta: “Você está satisfeita?”. Sua imagem refletida responde: “Não”. E você? Também não. Estamos sempre em busca de outras realidades. Na esperança de encontrar algo que nos falta e que para sempre faltará. Insatisfação crônica mesmo. Há um tema que abre um leque de infinitas possibilidades. No dia 28 de outubro de 2021 o termo “metaverso” ganhou o mundo depois de um pronunciamento do dono do Facebook, Mark Zuckerberg. A palavra virou um hit. “Metaverso é uma extensão virtual do mundo.” Mas o termo é mais antigo que isso. De acordo com o dicionário Oxford, metaverso é todo espaço de realidade virtual no qual os usuários conseguem interagir entre si e com o ambiente gerado por computador. O uso da palavra metaverso para descrevê-lo vem do ano de 1992: a internet ainda nem era tão popular, mas no livro Snow Crash o autor, Neal Stephenson, conta a história de Hiro, protagonista que é um hacker e que trabalha para uma organização mafiosa como entregador de pizza, mas, no metaverso, é um príncipe samurai. Quando surge um novo e misterioso vírus chamado Snow Crash, que ameaça tanto o mundo físico quanto o cibernético, Hiro parte em uma jornada virtual para encontrá-lo e destruí-lo.
“Estamos sempre em busca de outras realidades, na esperança de encontrar algo que nos falta”
Da ficção despretensiosa dos anos 1990 até os investimentos bilionários da big tech dos anos 2020, muita coisa aconteceu. Algumas das experiências mais democráticas vieram dos videogames que concentram centenas de milhões de usuários interagindo no espaço virtual, tentando simular um universo de amplificação da experiência humana. Mas se você não sabia do alcance de um conceito que parece tão novo saiba que, apenas no Brasil, cerca de 5 milhões de pessoas estão presentes em realidades paralelas. Mas há um caminho mais antigo através do qual as pessoas se identificam, sentem e vivem emoções também num mundo paralelo. A criança que olha para o brinquedo novo, lhe dá um nome e convive com esse novo amiguinho de certa forma também está construindo realidades paralelas. Num pensamento mais ousado, pode-se imaginar que compartilhar os mais antigos contos de fadas, geração após geração, tenha sido uma forma primitiva do metaverso. A ficção que existe desde a mitologia, criada pelo ser humano para lidar com perguntas sem respostas — como de onde viemos e para onde vamos, ou o que estamos fazendo aqui —, pavimentou a realidade que hoje vivemos. Há grandes saltos que são fruto de algo que no passado era considerado mera ficção. Há ficções que são proféticas, como a obra de Júlio Verne, que já descrevia um submarino, sem que ele ainda existisse, em Vinte Mil Léguas Submarinas.
E o que se revela mais intenso é nosso desejo de incorporar essa ficção naquilo que chamamos de mundo real. Já me aventurei a navegar pelas ruas do metaverso, através de jogos em que pude ter a experiência de ter outro corpo e realizar tarefas bastante realistas. O metaverso é uma aventura que já se tornou presente e que pode romper com o presente, passado e futuro. Quem é você no metaverso?
Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2023, edição nº 2863