Adeus às multidões: os novos destinos ‘fora do mapa’ que enchem os olhos
Viajar, enfim, agora mais do que nunca, ganhou ares de descoberta

Enfim, cinco anos depois da eclosão da pandemia de covid-19, o setor de turismo caminha para viver números iguais ou melhores ao do tempo em que o vírus era uma miragem. Relatório da Organização Mundial do Turismo, agência da ONU, vai direto ao ponto: em 2024, 1,4 bilhão de pessoas fizeram viagens internacionais, o mesmo patamar registrado em 2019, antes da emergência sanitária. Os turistas gastaram 1,9 trilhão de dólares, o equivalente a quase 11 trilhões de reais. Além das boas notícias sobre a retomada do mercado — e 2025 promete ser ainda mais movimentado —, o levantamento indica uma saudável novidade: o crescimento do interesse por destinos à margem de endereços clássicos, e já não basta sonhar com a França e a Espanha, os prediletos na Europa, continente mais visitado no ano passado, com 747 milhões de forasteiros. É bom, portanto, começar a olhar para maravilhas que ainda outro dia estavam fora do radar.
No Velho Continente, um dos destaques é a Albânia, país que até 1998 vivia fechado, uma espécie de Disney para quem ainda admirava a mão de ferro do partido comunista. É página virada. Os albaneses celebram o sucesso de seus 300 quilômetros de praias, banhadas pelo Adriático, ao norte da Grécia. A infraestrutura não é lá grande coisa, mas os preços de comida e hospedagem valem a pena, são um tantinho mais baratos, e viva um canto do planeta celebrado como “a nova Croácia”, sem as hordas invasoras. E não à toa, no ano passado, houve uma série de manifestações de rua alimentadas por moradores de cidades europeias contra a maré de gente de fora, contra o chamado overtourism, uma condição de nosso tempo.

Louvem-se, na atual tendência, também as atrações de Andorra, microestado encravado entre a França e a Espanha, com pistas de esqui para famílias e visual bucólico. “A procura por destinos menos visados está relacionada a uma busca por exclusividade”, diz Bruno Manhaes, docente da área de turismo do Senac de São Paulo. “O viajante quer ser um colecionador de experiências e contar uma história diferente da maioria. Por isso o interesse por outros destinos.”
Uma pesquisa realizada por uma bandeira de cartão de crédito de alcance global apontou um lote de 28% de pessoas desejosas de sair do conforto, em “viver experiências novas e exóticas que não estão disponíveis em seu ambiente local”. Há quem busque nações que mal saíram da guerra civil, como El Salvador, e o ar enigmático (aos olhos ocidentais, é claro) do Oriente Médio, mas à distância regulamentar dos conflitos bélicos que ali explodem, a partir da guerra de Israel contra o Hamas. Nenhum canto teve um aumento tão expressivo de procura quanto o Catar, com salto de 137% de emissão de vistos em relação a 2023. A da Copa do Mundo em 2022, aquela de Lionel Messi, é claro, ajudou a ampliar o impulso, bem como a escolha da companhia aérea Emirates como a melhor do mundo em 2024. O Kuwait também tem atraído olhares de cobiça, em virtude de sua arquitetura moderna e os arranha-céus impressionantes — e adeus àquela imagem das torres de extração de petróleo pegando fogo, em 1991, depois da invasão do Iraque, atalho para a primeira Guerra do Golfo.

Viajar, enfim, agora mais do que nunca, ganhou ares de descoberta, um passo além da imaginação dos cartões-postais de sempre. Especialistas apontam Ásia e América do Sul como ímãs de futuro breve. O escritor inglês Aldous Huxley, dos admiráveis mundos novos, avisou: “Viajar é descobrir que todo mundo está errado sobre os outros países”.
Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2025, edição nº 2933