Divulgados os indicados a 96ª edição do Oscar pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a moda também volta suas atenções ao cinema. E não só ao desfile de astros e estrelas no tapete vermelho, mas também aos filmes que concorrem na categoria melhor figurino: “Barbie”, “Assassinos da Lua das Flores”, “Napoleão”, “Oppenheimer” e “Pobres Criaturas.”
Preciosismo cor-de-rosa
“Barbie” desponta como um dos favoritos para melhor figurino dado o preciosismo da criação dos looks para a protagonista de Margot Robbie – a Barbie estereotipada – e suas amigas, todas Barbies, que seguem literalmente o conceito caricato e de produções super elaboradas da boneca na “vida real”. Destaque, é claro, para as roupas cor-de-rosa, que viraram febre mundial, pautando coleções de moda, desfiles internacionais e celebridades, que invadiram as ruas e redes sociais sob a tendência Barbiecore. Assinado por Jacqueline Durran, o figurino tem papel fundamental na construção do live-action de Greta Gerwig, com centenas de roupas garimpadas em brechós, confeccionadas especialmente para o filme ou com a assinatura da Chanel, que emprestou peças de seu acervo e recriou outras para o longa. Além do rosa, o figurino lúdico de Barbie traz combinações de cores em tons claros como azul, verde, amarelo e lavanda, além de estampas como listras e poás, que remetem ao universo da boneca. As inspirações também são bem fieis aos períodos de auge da Barbie, lançada em 1959, com looks que evidenciam a elegância romântica dos anos 1960 e os brilhos e paetês da década de 1970. Os anos 1980 são contemplados nas roupas dos bonecos Ken.
Riqueza de Detalhes
Outro candidato na categoria é “Assassinos da Lua de Flores”, que faz uma bela homenagem à história e à cultura da comunidade nativa americana Osage, na década de 1920. Assinado pela figurinista Jacqueline West, famosa por seu extenso trabalho de pesquisa, e com consultoria de Julie O’Keefe, o figurino do longa de Martin Scorcese é cheio de referências e impressiona pela riqueza de detalhes e pela forma impecável que remonta o vestuário original – cobertores, xales, lonas e fitas, confeccionados do zero e “aprovados” por membros da própria comunidade nos Estados Unidos.
Luxo e Ostentação
Dirigido por Ridley Scott, o filme “Napoleão” é um épico que conta a história do imperador francês e seu conturbado relacionamento com a esposa Josephine, ícone fashion da época. Assim, traz um figurino de tirar o fôlego, assinado pelos experientes Janty Yates e David Crossman, composto por um grande número de peças luxuosas, entre as quais se destacam os quatro mil uniformes militares, que vieram de Roma, as roupas com referências militares e as vestes que representam as tendências da época, no momento de ruptura da monarquia, com símbolos greco-romanos e da Idade Média representados em figurino opulento e ostentativo, especialmente do imperador interpretado por Joaquin Phoenix. As roupas de renda, cetim, tafetá e seda de Josephine (Vanessa Kirby), referência absoluta de moda da época, são um capítulo à parte – por causa dela, houve uma mudança na silhueta feminina, que assumiu uma forma mais minimalista e sensual ao se livrar do espartilho e passar a usar o chamado “vestido império” (corte reto, tecidos leves, pouco volume na saia, costura ajustada abaixo do busto e braços de fora).
Inspiração em Bowie
Com figurino assinado pela americana Ellen Mirojnick, “Oppenheimer” é um filme histórico de Christopher Nolan, ambientado nos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, mas traz uma inspiração interessante para o figurino do personagem principal, o físico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy): David Bowie. Mas nada de colorido. O figurino de Oppenheimer é construído em uma alfaiataria alinhada e de cores sóbrias como cinza, marrom e preto, com calças pregueadas de silhuetas folgadas e ajustadas com suspensórios, ao estilo da época. Para conseguir a aparência magra e frágil do físico que projetaria as primeiras bombas atômicas, Murphy emagreceu muito. O figurino, porém, caiu como uma luva para o estiloso personagem, que adotou ainda casacos longos e chapéus de abas largas como os que Bowie usava no período “Thin White Duke”, de Bowie.
Prático e Sexual
Holly Waddington acertou em cheio no figurino conceitual e funcional de “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos, já que o filme traz muitas cenas sexuais e precisava de tecidos leves e transparentes, mas que trouxessem sensualidade e praticidade ao mesmo tempo. O resultado é de tirar o fôlego, especialmente o figurino de Bella Baxter (Emma Stone), que veste desde mangas bufantes e babados que remetem às roupas infantis do momento em que ela volta à vida pelas mãos do cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe), até blusas que imitam vaginas e casaco com formato de camisinha, de silhuetas exageradas e tecidos contemporâneos como látex, que representam suas muitas descobertas sexuais.