Coffee parties: a nova balada que caiu no gosto da geração Z
É uma alternativa conservadora às raves regadas a álcool e algo mais, que nos anos 1990 e 2000 fizeram a festa de gente insone, de olhar esbugalhado

A batida de música eletrônica ecoa com tudo. São 11 horas da manhã. Tum-tum-tum. O DJ comanda a festa com jovens dançando em agitação máxima, movidos a… café. Bem-vindo a uma nova modalidade de diversão, as chamadas coffee parties. Nasceram nos Estados Unidos no início dos anos 2010, não demoraram a desembarcar na Europa, especialmente em Berlim, e começam agora, tardia mas grandiosamente, a fazer sucesso no Brasil. É uma alternativa conservadora, embebida de cafeína, às raves regadas a álcool e algo mais, que nos anos 1990 e 2000 fizeram a festa de gente insone, de olhar esbugalhado.
A onda ecoa uma mudança de comportamento da mocidade, que se afasta dos excessos. Em 2020, no auge da pandemia de covid-19, os jovens de 18 a 24 anos no Brasil que bebiam três ou mais vezes por semana representavam 10,7% da turma, segundo o Covitel, o estudo de risco para doenças crônicas. Informações mais recentes indicam, agora, queda para 8,1% do total. Não é uma ladeira tão íngreme, mas indica evidente tendência. Em passo simultâneo, registrou-se o crescimento de interesse da chamada geração Z, dos nascidos nos 1990, pela típica bebida brasileira.

Segundo dados da Euromonitor International, encomendados pela Associação Brasileira da Indústria de Café, a faixa etária de 16 a 25 anos é a que se mais interessa por bebê-lo, mais até do que o grupo da maturidade. De posse de informação desse tipo, deu-se a virada, de modo a levar o consumo para as baladas, no lugar de cerveja e destilados. Até porque, é sempre bom não esquecer, a cafeína tem evidente poder estimulante, e que fique claro, de acordo com trabalhos recentes: é desaconselhável se encharcar de café e outras fontes de cafeína na rotina. O consumo moderado — algo como de três a quatro xícaras pequenas por dia — é que vem sendo relacionado a ganhos de saúde, especialmente a prevenção de doenças cardiovasculares.
Pois então, se a ideia é ficar ligado no corpo e, a um só tempo, juntar gente amiga, porque chega do isolamento imposto pela pandemia, as ruidosas coffee parties unem o útil ao agradável. “Os jovens têm saído menos à noite, buscam um estilo de vida mais controlado”, diz Daniel Libânio, CEO da Mocca, cafeteria de Belo Horizonte que entrou na brincadeira. Os mais crescidinhos também jogam o jogo, e da mistura brotou um movimento interessante demais para ser desdenhado. O.k., o álcool não foi definitivamente banido, e nunca será — mas em algumas situações, virou patinho feio.
O bonito, em tempo de tanta exigência imposta pelas redes sociais, em que é preciso “aparecer”, as festanças matinais vão ganhando cores e charme. A cafeteria Keopi, em Fortaleza, inspirada na cultura asiática, transformou os eventos que realiza em festival de diversidade. Ao som de ritmos variados, especialmente o k-pop coreano, do qual já é impossível escapar, há degustação de café gelado e drinques não alcoólicos. “É um modo de reunir a paixão pelo entretenimento da Coreia com a popularidade do café e a dança”, diz Irislane Vieira, sócia do estabelecimento.
E para quem não é do k-pop, fique tranquilo, porque há coffee parties para gostos diversos. Há versões mais sérias, com todos sentados à mesa, ou em espaços abertos, atrelados a silêncio e sessões de ioga. As empresas também aderiram, para reuniões de networking, marketing e aprendizado. Os organizadores da edição brasileira do festival de música eletrônica Tomorrowland promoveram um grande café da manhã para divulgar a nova edição do evento. A cafeteria Starbucks e a marca de roupa Farm utilizaram o modelo para lançar uma nova coleção de roupas. A Fenty Beauty, marca de maquiagem de Rihanna, fez em Salvador, no dia 6 de setembro, um encontro — e dá-lhe café — com um par de lemas um tanto etéreos, mas vá lá: “Escapar do brain rot”, a baboseira espraiada pelas redes sociais, e “criar conexões profundas”. Mal não faz, desde que não se exagere nas doses, que, se não provocam estragos como o álcool e drogas ilícitas, podem, sim, ser ruins. Café, resuma-se, também exige moderação. E fica-se com a ironia do escritor e poeta gaúcho Caio Fernando Abreu (1948-1996), defensor de todas as liberdades: “Um café e um amor. Quentes por favor. Pra ter calma nos dias frios, pra dar colo quando as coisas estiverem por um fio”.
Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2025, edição nº 2961