Os indícios estavam sendo mostrados há algum tempo, mas agora é oficial: a demanda por artigos de luxo caiu. A gigante LVMH, maior conglomerado do setor, divulgou os resultados do trimestre e aponta para uma queda importante da receita. As vendas das marcas do grupo caíram 3% numa base orgânica, que significam uma perda de 21 bilhões de dólares. Só a divisão de moda e itens de couro, que abriga marcas como a Louis Vuitton, Dior, Fendi e Loewe, registrou queda de 5% na receita, bem abaixo das previsões de especialistas para um crescimento de até 4%.
Outros grupos seguem na mesma toada. Nesta quinta-feira, 24, a Kering avisou que o lucro em 2024 iria cair quase pela metade, com as vendas da Gucci, principal marca do grupo francês, registrando queda de 25%. Segundo o conglomerado de luxo, o resultado em 2024 poderá ser de 2,5 milhões de euros, muito menor do que os 4,75 milhões de euros no ano anterior – baixa justificada pelo enfraquecimento da Ásia-Pacífico, onde as receitas caíram 30%.
“Estamos executando uma transformação de grande alcance no grupo, em particular na Gucci, em tempos que todo o setor do luxo enfrenta condições de mercado desfavoráveis”, afirmou François-Henri Pinault, presidente da Kering, em comunicado.
Impacto Oriental
Primeiro declínio nas vendas trimestrais desde a pandemia, os grupos apontam as dificuldades principalmente pela fraca procura na China e no Japão. Embora já fosse esperado uma baixa do mercado depois da onda de consumo pós pandemia, com consumidores ávidos pelo retorno das compras e experiências físicas, o retraimento dos mercados nessas potências asiáticas parece ter antecipado ainda mais a depressão no setor de luxo.
A China, por exemplo, enfrenta graves problemas de desemprego e uma enorme crise imobiliária, o que pesa nas decisões de compras, especialmente para artigos de luxo. Nem as medidas de estímulo do governo reacenderam o entusiasmo por esses produtos.
Estado de Alerta
A Guerra na Ucrânia e do Oriente Médio também contribuem para a crise no setor já que colocam o mundo e, consequentemente, a economia em estado de alerta. Assim como os preços elevados de artigos de luxo, atualmente 54% mais altos do que antes da pandemia, segundo dados do HSBC.
A criatividade também está em xeque. É só ver a dança das cadeiras na moda. Sob pressão criativa e comercial de, ao mesmo tempo agradar a crítica e atingir metas cada vez maiores, os designers trocam de marca como trocam de roupa. Espera-se, porém, que as receitas melhorem no quarto trimestre, com as vendas de Natal.
Na Contramão
Embora seja global, a crise não é para todos. Na contramão das quedas, a Hermès divulgou seus resultados nesta quinta-feira, 24, com alta acima das expectativas. Segundo a Hermès International, as vendas da grife aumentaram 11,3% no terceiro trimestre.
A explicação vem pelo fato da marca atender a clientes realmente abastados, que aguardam em filas de espera por bolsas da grife, em especial, a Birkin, objeto de desejo milionário e preferida de estrelas como Jennifer Lopez e Victoria Beckham.
De acordo com a marca, as vendas superaram as expectativas no Japão, Américas e Europa – só na França, aumentaram 13,1% no trimestre. Na China, porém, embora tenham aumentado em 1%, também registrou estimativa abaixo das previsões de crescimento.