Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Relâmpago: Revista em casa por 8,98/semana

Cursos para encontrar ‘alma gêmea’ fazem sucesso nas redes com ideias antiquadas

Em ambiente tecnológico tão moderno, a mensagem que hoje ganha espaço é conservadora

Por Paula Freitas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Duda Monteiro de Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 set 2025, 08h00

O furacão da internet, desde que começou a girar em meados da década de 1990, nunca mais parou de mudar a sociedade como a conhecíamos. Até mesmo de onde se imaginava improvável que ela tirasse a poeira, a revolução digital deu um jeito de reinventar os caminhos — e, então, no território movediço das relações amorosas, deu-se início a um novo tempo. A atração entre seres humanos, sem a qual a humanidade não existiria, passou do toque e do olhar para dentro do smartphone. Até aí, aparentemente é história já batida, com cupidos virtuais — influenciadores, como se diz — prontos para ajudar a encontrar a alma gêmea, até mesmo com cursos on-line devidamente pagos.

Nas últimas duas semanas, VEJA seguiu dez personagens atuantes nessa área que, na soma de seus membros, acumulam mais de 6,5 milhões de seguidores. A conclusão, em forma de paradoxo: em ambiente tecnológico tão moderno, a mensagem que hoje ganha espaço é antiquada e conservadora. Parte desses cupidos virtuais prega a volta da era em que a mulher, para encontrar um parceiro e se dar bem no amor, tinha de se submeter ao desejo masculino. Parados no tempo, eles também ignoram mudanças de comportamento que derrubaram preconceitos e abriram espaço para outros arranjos, a exemplo dos casais do mesmo gênero.

instagram @osenhorsaldanha
MENTOR – Saldanha em podcast: “Como ter uma mulher submissa” (Reprodução/Instagram)

Essa mentalidade retrógrada é o ponto de partida para que esses influencers destilem conselhos cheios de preconceitos e vazios de qualquer base teórica. Exemplo disso é a pérola machista sugerindo que uma mulher que teve vários parceiros sexuais é uma pretendente a evitar. “Ela vai perdendo a capacidade de se apaixonar e não consegue mais entrar em um relacionamento”, justifica Breno Faria, de 31 anos. Policial de profissão, ele é dono da página Café com Teu Pai (qualquer semelhança com o devocional Café com Deus Pai não é mera coincidência), que reúne quase 1 milhão de fãs. Orientações desse quilate são oferecidas para quem pagar 57,90 reais pelo curso intitulado “A mulher que ele assume”, já adquirido por cerca de 8 000 usuários. “Não sou machista, apenas retrato o mundo como ele é”, diz Faria, que se classifica como “um burro que carrega verdades”.

Como ocorre com outros temas polêmicos na ágora das redes, as opiniões controversas engajam a audiência e promovem uma onda capaz de atingir até quem não se interessa por esse tipo de conteúdo. “De tanto aparecer, uma hora a narrativa ganha contornos de verdade”, diz Edson Prestes, professor do Instituto de Informática da UFRGS. Para os pensadores dados a inventar regras, a consorte — o termo antiquado combina com o ideário — deve priorizar a família e os filhos e optar por trabalhar apenas se precisar de renda complementar. Também não pode demonstrar irritação ou questionar as decisões do namorado. “É a obrigação da mulher arrumar a casa e do homem prover”, diz o administrador Moacyr Saldanha, 39 anos, mentor do curso “Como ter uma mulher submissa” (97,90 reais), à disposição para seu rebanho de 460 000 seguidores. “Está escrito na Bíblia”, completa ele.

Continua após a publicidade
instagram.com/obrenocop/
“GURU” - Breno Faria: cursos têm mais de 8 000 assinantes (Reprodução/Instagram)

Mulheres também fazem sucesso com conselhos para uma vida a dois menos conflituosa. A receita é simples: basta deixar a última palavra para o marido. “Casamento não é assembleia, onde todo mundo levanta a mão para votar”, afirma a psicoterapeuta Yasmin Fleming, em um de seus vídeos que promovem o curso “Casamento raiz” (276 reais). “Enquanto você insiste em disputar cada decisão, ele sente que precisa brigar por espaço para liderar a própria casa.” A postura, é o que indica o volume de cliques em perfis conservadores, vai na contramão de um movimento necessário, o do feminismo. “Essa visão frágil do que é ser mulher, proposta por esses canais na internet, não é solução para as angústias enfrentadas por elas todos os dias”, diz a socióloga Isabelle Anchieta.

A ideia disseminada pela onda à moda antiga pressupõe que o resgate das tradições é o preço a ser pago pela flechada do anjo casamenteiro. Esse tipo de sedução pode falar alto a quem não suporta mais a solidão. “Ao sentir-se só, a pessoa passa a acreditar que a coisa mais interessante que pode acontecer é encontrar um parceiro”, diz o psicanalista Christian Dunker. Aprender a amar, contudo, exige muito mais do que abrir a carteira e ter disposição de gastar algumas horas diante da tela do celular, ouvindo platitudes. A vida é mais complexa e muito mais interessante.

Publicado em VEJA de 5 de setembro de 2025, edição nº 2960

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

15 marcas que você confia. Uma assinatura que vale por todas.

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

A notícia em tempo real na palma da sua mão!
Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
ECONOMIZE ATÉ 28% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 10,00)
De: R$ 55,90/mês
A partir de R$ 39,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.