Na mitologia de Star Wars, a fantástica saga criada pelo cineasta americano George Lucas, o contrabandista Han Solo e a Princesa Leia se apaixonam, casam e passam a lua de mel em um cruzeiro galáctico, o luxuoso Halcyon. Agora, os fãs da série poderão ao menos ter um vislumbre de como foi a aventura. Isso porque a espaçonave deixou o mundo da ficção para se tornar a nova atração do Disney World, o complexo de parques temáticos localizado em Orlando, na Flórida. Desde que comprou os direitos da franquia, em 2012, a Disney explora ao máximo as possibilidades de negócios geradas pela aquisição.
Nesse contexto, novos filmes, séries, games, livros e quadrinhos são lançados com frequência. Em 2019, a empresa inaugurou em seus parques uma área inteira dedicada aos personagens. Entre as atrações, destaca-se uma réplica da nave Millennium Falcon, além de lojas de brinquedos e restaurantes. A proposta do novíssimo Galactic Starcruiser, no entanto, é completamente diferente.
Durante dois dias, o visitante embarca em uma viagem que inclui alimentação, hospedagem em uma cabine do “cruzeiro espacial” e uma série de atividades que reproduzem os acontecimentos da cronologia oficial, entre os episódios VI e VII. O turista é convidado a se tornar um personagem da franquia, vestindo-se a caráter e interpretando o papel que desejar, seja o de herói destemido, seja o de vilão implacável. Cada funcionário do parque atua o tempo inteiro, e monitores convocam os hóspedes a sabotar um motor, ajudar um espião ou participar de um treinamento de sabres de luz. O visitante pode escolher se vai se tornar um simpatizante da Nova República — os “mocinhos” dos filmes — ou se aliar à Primeira Ordem, cujos integrantes assumiram o posto de malvadões após a morte de Darth Vader. Cada escolha abre uma série de novas atividades e encontros com personagens clássicos, como Chewbacca. O ambiente é quase todo fechado, com “janela” exibindo cenas do espaço. Tudo para não quebrar a fantasia.
Confiante no poder de fogo da novidade, a Disney aposta suas fichas no projeto. “A atração vai mudar as possibilidades do que se espera de experiências imersivas”, diz Scott Trowbridge, criador de entretenimento da empresa, ou “imagineiro”, como são conhecidos os profissionais que trabalham desenvolvendo atrações para os parques. Não à toa, a mistura de hotel, parque temático e jogo de interpretação está sendo comparada ao ambiente da série Westworld, em que os visitantes entram em uma recriação extremamente detalhada do Velho Oeste. É o máximo de imersão que um fã da saga espacial pode esperar.
Evidentemente, o mergulho no universo criado por George Lucas não custa barato. O valor da experiência completa para um casal começa em 4 800 dólares, o equivalente a quase 23 000 reais, e chega a 6 000 dólares para quatro pessoas (três adultos e uma criança). O preço não inclui bebidas alcoólicas e acesso a alguns acessórios necessários para a jornada, como as roupas temáticas e o sabre de luz próprio. Os custos elevados não estão restritos às novas atrações. Embora o preço dos ingressos tenha permanecido o mesmo, as acomodações estão mais caras. O aluguel dos quartos no hotel mais acessível do complexo subiu 75% desde 2013, acima da inflação. E serviços antes gratuitos, como o transfer do aeroporto e métodos para pular filas, agora também são cobrados.
Nada, porém, parece afetar a demanda por férias na Disney. Desde que as restrições impostas pela pandemia foram retiradas, a procura pelos parques disparou. Em dias mais movimentados, especialmente nos fins de semana, os ingressos estão esgotados e é preciso planejar o passeio com meses de antecedência. Se o Galactic Starcruiser se tornar um sucesso, e tudo indica que vai, dado o interesse, é possível imaginar que a Disney deva investir ainda mais em atrações imersivas. Sorte dos fãs, que poderão “vivenciar” as aventuras mágicas de seus personagens favoritos. Era uma vez — e mais do que nunca ainda é — numa galáxia distante…
Publicado em VEJA de 6 de abril de 2022, edição nº 2783