Kate Middleton usa. Então, todas usarão. Foi só a duquesa de Cambridge aparecer com uma bolsa vintage durante visita a uma escola na Jamaica no tour pelo Caribe acompanhando o marido, o príncipe William, para o fenômeno impor-se mais uma vez: virou tendência resgatar dos armários das avós ou garimpar em brechós as bolsas de mão parecidas com as que a rainha Elizabeth, avó de William, desfilou a vida toda. Ou, na falta de uma original, recorrer a peças retrô inspiradas no desenho antigo. Delicadas, elas trazem a nostalgia do tempo em que, para sair de casa com elegância, era imprescindível levar o modelo pendurado no pulso.
A duquesa surgiu com uma bolsa Wayne Taylor laranja. Confeccionada manualmente na década de 60 no Japão, é feita de tricô de ráfia entrelaçada com contas de plástico, alça rústica de madeira e fecho metálico. O formato é retangular como o da clássica 2.55, criada em fevereiro de 1955 pela francesa Coco Chanel. A aparição de Kate fez esgotar a bolsa na plataforma de comércio eletrônico Willow Hilson, onde era oferecida pelo equivalente a 1 500 reais. O acessório foi combinado com um conjunto branco de Alexander McQueen (o blazer custa 7 750 reais), saltos Jimmy Choo (3 000 reais) e uma blusa também alaranjada da Ridley (1 500 reais). Mais elegante, impossível.
E a bolsa, evidentemente, é que merece atenção especial. É um artigo caro, e de algum modo segue os humores do mercado. As mais raras, trabalhadas como se estivessem sendo buriladas por ourives, beiram o inalcançável. Vale sublinhar, contudo, que muito além do luxo em si, do privilégio da exclusividade, fazem sucesso por estar sintonizadas com a cultura do consumo que respeita a atemporalidade de peças eternas. Chanel sempre disse que as peças precisam durar. “Não consigo imaginar que se jogue uma roupa fora só porque é primavera”, repetia. Nunca o pensamento defendido pela estilista foi tão oportuno — e chique — quanto hoje. O mundo movido pelos millennials pede cuidado com o que é jogado fora. Que tal, portanto, recuperar objetos de décadas atrás? Um outro caminho é simplesmente beber da história, e para isso não é preciso ter sangue azul ou a conta bancária de artistas que bombam nas redes sociais e delas saem milionários.
Não por acaso, de olho na tendência, grifes reputadas como as italianas Miu Miu e Schiaparelli e as francesas Pierre Cardin, Yves Saint Laurent e a própria Chanel entraram no túnel do tempo com ofertas menos agressivas para o bolso. Não demorou, é claro, para que designers brasileiros pegassem a mesma onda. A marca Serpui Marie, de São Paulo, e a grife carioca Tarsila já sabem que o passado absolve, dada a elegância. As peças de Serpui são artesanais, feitas em tear de palha, atalho para delicadeza. “Elas são manufaturadas por artesãos diferentes”, diz Marie. “Dificilmente uma sai igual à outra.” A proposta da Tarsila é outra, mas igualmente impactante. As bolsas da vovó aparecem em couro macio, colorido e definidas por linhas contemporâneas, em um belo exemplo de reinterpretação de um clássico que nunca deixou de ser admirado pelas mulheres ao longo das décadas.
Há explicação? Sim. Exalam evidente feminilidade e elegância à prova do tempo, intocáveis, enquanto modas vêm e vão. Desde o século XVIII, quando as bolsas foram reconhecidas como acessório feminino fundamental, os exemplares diminutos entraram em cena para nunca mais sair. E talvez seja o caso, no andar da carruagem, de mudar a nomenclatura. São agora artefatos de todas as mulheres, e não mais das mães de nossos pais.
Publicado em VEJA de 13 de abril de 2022, edição nº 2784