Ela já levou: o que está por trás das escolhas fashion de Fernanda Torres
A caminho da cerimônia do Oscar, ela desfila o charme incontestável de uma mulher madura e bem-humorada, sem os exageros de Hollywood

Pouco importa se Fernanda Torres sairá de Los Angeles, no domingo de Carnaval, 2 de março, com a estatueta do Oscar. A Eunice do já clássico filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, a viúva do ex-deputado Rubens Paiva, morto nos porões da ditadura, em 1971, tem chamado atenção por onde passa e por onde pisa, desde que deflagrou a campanha para atrair votos da Academia de cinema, desde que ergueu o troféu do Globo de Ouro. Aos 59 anos, madura e altiva, sem no entanto perder o sorriso contagiante e a alegre ironia dos tempos de juventude — quando ganhou a Palma de Ouro de melhor interpretação feminina em Cannes, por Eu Sei que Vou Te Amar, em 1986, e depois como a Vani de Os Normais, lançado pela Globo em 2001 —, ela desfila o poder da maturidade. Elegante, precisava não ofender a história de Eunice, mas também não poderia ser minimalista em demasia.
Era como se a personagem saísse da tela. Como, então, Eunice se vestiria? Eis a premissa a costurar o planejamento visual de Fernanda para as câmeras de quem as aponta para o frenesi de Hollywood. “O desejo dela era levar a personagem para além do que foi visto no filme”, disse a VEJA o estilista Antonio Frajado, responsável pelo guarda-roupa da atriz. “Funcionou porque há semelhança entre as personalidades.” Pode soar um tanto exagerado, mas é paralelo coerente, dada a discrição parecida de ambas.
Funcionou, e muito. Do début no Festival de Veneza, em setembro do ano passado, onde usou um modelo assinado por Alexandre Herchcovitch, à noite do Bafta, apelidado de o “Oscar Britânico”, dentro de um vestido de alta-costura Dior, desenhado por Maria Grazia Chiuri, com um decote um pouquinho maior do que o habitual, Fernanda nunca deixou de ser Fernanda. Entre um ponto e outro, foi de Olivier Theyskens, Burberry e Chanel — que ofereceu a ela um casaco-vestido inédito, na Semana de Moda de Paris, e que tão cedo não chegará às lojas. A peça já é conhecida como “o casaco de Fernanda Torres”. “Ela sabe exatamente o que quer usar, isso encanta”, diz Reinaldo Lourenço, autor de um modelo tubo de seda preta para o Festival de Toronto.

A crescente popularidade de Fernanda como ícone da moda também se reflete nas redes sociais, é natural. Seus looks são frequentemente comentados e compartilhados por admiradores, gerando debates. A atriz, no entanto, mantém postura discreta em relação ao capítulo como influencer, afirmando em entrevistas que “não fez nada, o filme apenas a colocou nisso”. A seu feitio, modesta, mas sempre atenta, sabe andar na contramão de alguns de seus pares na festa. Tome-se, como exemplo, Demi Moore, 62 anos, candidata por A Substância — adversária da pesada na disputa do Oscar. A americana fez carreira com figuras quase sempre sensuais, voluptuosas, de erotismo transbordante, características, aliás, que a afastaram dos prêmios, e que o próprio A Substância critica, de algum modo. E, contudo, na vida real, por hábito, talvez, ou imposição dos flashes, ela usa e abusa dos decotes, como seu viu durante o rega-bofe do Critics Choice. É o avesso da brasileira, charmosa de outro modo. “A roupa serve a Fernanda, e não o contrário”, diz Frajado.
A expectativa, em forma de segredo que vale 1 milhão de dólares, é saber o que o alter ego de Eunice vestirá na noite do Oscar. VEJA apurou que o modelo está sendo costurado em Paris, embora não se saiba a etiqueta. Deve ser preto, mas com detalhes que confiram algum glamour. Tudo para que, ao final da aventura de 2024 e 2025, ela possa repetir Eunice em uma das cenas mais bonitas de Ainda Estou Aqui, quando a mãe de cinco e marido desaparecido é abordada por um repórter fotográfico que lhe pede ar tristonho, uma foto “menos feliz”. Ela se recusa a fazer cara feia, vira para os filhos e diz: “Nós vamos sorrir! Sorriam!”. Assim é Fernanda Torres, chique no último.
Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2025, edição nº 2932