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Extraordinária coleção de arte de um dos pais da Microsoft vai a leilão

Valor estimado do espetacular lote de Paul Allen: 1 bilhão de dólares

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h24 - Publicado em 5 nov 2022, 08h00
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  • PONTILHISMO - Les Poseuses, Ensemble, de Georges Seurat, de 1888: pintura estimada em 100 milhões de dólares -
    PONTILHISMO - Les Poseuses, Ensemble, de Georges Seurat, de 1888: pintura estimada em 100 milhões de dólares – (Georges Seurat/The Barnes Foundation/.)

    As fotografias dos anos 1970, na gênese da revolução promovida pelo computador pessoal, davam pistas do perfil de dois de seus mais relevantes personagens: Bill Gates, de sorriso aberto, jeitão típico do que naquele tempo seria um “nerd”, o sujeito esquisitão apegado a bits e bytes; e Paul Allen, barba cultivada, entre a tensão e o relaxamento, com cara de quem gostaria de estar em outro lugar.

    Eles eram muito diferentes — e das diferenças brotou a mais extraordinária parceria da história da tecnologia, a alma da Microsoft. No início da década de 80, os dois criaram para a IBM um sistema operacional para ser utilizado por leigos, o MS-DOS, que depois evoluiria para o Windows. O resto é história. Gates, com o passar do tempo, abandonou o cotidiano da programação e, multibilionário, se dedicou a uma nova e interessante persona: a de benemerente, afeito a abrir caminhos para pesquisas nas áreas de saúde. Allen, muito cedo, ainda em 1983, deixou a empresa para lutar contra um linfoma recém-descoberto. Fez também da filantropia um modo de vida — doaria 2 bilhões de dólares até morrer, em 2018 — e se afeiçoou a excentricidades, como a compra de um iate avaliado em 200 milhões de dólares, e interesses pessoais, a exemplo da aquisição de uma equipe de futebol americano, o Seattle Seahawks.

    GOSTO VARIADO - Floresta de Bétulas, de Gustav Klimt, a Ponte de Waterloo, obra impressionista de Claude Monet, e o tríptico de Francis Bacon: são 150 obras-primas de 500 anos de história das artes no Ocidente -
    GOSTO VARIADO – Floresta de Bétulas, de Gustav Klimt, a Ponte de Waterloo, obra impressionista de Claude Monet, e o tríptico de Francis Bacon: são 150 obras-primas de 500 anos de história das artes no Ocidente – (Fotos CHRISTIE’S/.)

    Mas sempre houve um segredo de polichinelo: seu fascínio por obras de arte. Algumas peças de seu tesouro particular tinham sido vistas nas raras vezes em que foram mostradas publicamente. Contudo, apenas agora a coleção se revelou por completo com o anúncio de um leilão na casa Christie’s de Nova York, em 9 e 10 de novembro, cujo valor total pode chegar a 1 bilhão de dólares — e renda revertida para ajudar comunidades pobres. São 150 obras-primas a atravessar 500 anos, de Botticelli a Hockney. Há uma tela de Georges Seurat, Les Poseuses, Ensemble, estimada em 100 milhões de dólares. Há também um Gustav Klimt de 1903, Floresta de Bétulas, que pode bater em 90 milhões de dólares. Tem uma paisagem de Claude Monet, para mais de 60 milhões de dólares, e um tríptico de Francis Bacon, na casa dos 25 milhões de dólares.

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    Um olhar superficial parece não entregar uma linha que costure as aquisições de Allen. Mas há, sim, coerência, e quem deu a pista foi o próprio colecionador em 2006, ao falar sobre uma mostra com parcela pequena de suas joias. “Estou sempre tentando descobrir para onde o futuro está indo. Talvez seja por isso que eu ache as paisagens interessantes. É como se fossem janelas para realidades diferentes. No Klimt, pode-se perceber quietude e calma. Quando você olha para uma pintura, está olhando para um outro país, para a imaginação de outra pessoa, como ela a viu.”

    A GÊNESE DE TUDO - Allen, ao lado de Bill Gates (à esq.): almas diferentes -
    A GÊNESE DE TUDO - Allen, ao lado de Bill Gates (à esq.): almas diferentes – (Barry Wong/TNS/.)

    Quando se observa o lote de Allen, é como se enxergássemos a alma de alguém que soube casar os dois mundos — a aridez matemática dos programas de computador com a riqueza indizível da arte. Jody Allen, executora do espólio do irmão, contou ao The New York Times que ambos cresceram em uma casa plena de interesses. A mãe era professora e o pai, bibliotecário. “Fomos encorajados a desenvolver nosso músculo criativo desde cedo”, disse ela. É um belo legado do homem que ajudou a inventar a civilização moderna, cuja travessia pode ser traduzida também pelas obras que vão a martelo.

    Publicado em VEJA de 9 de novembro de 2022, edição nº 2814

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