Feios, ingênuos e graciosos: o que está por trás do fenômeno Labubu
O monstrinho de pelúcia lançado por um fabricante da China ganha o mundo com a ajuda de fãs famosos e enriquece a empresa responsável pela produção

É pueril, mas cabe uma compreensão adulta. A não ser que você esteja no mundo da lua, e apartado das redes sociais — o que soa improvável —, já deu de cara com uns feiosos monstrinhos de pelúcia que parecem misturar coelho, elfo e gremlin. Bem-vindo ao universo particular dos Labubus, criação de um artista de Hong Kong para a Pop Mart, gigante chinesa de brinquedos colecionáveis. Virou fenômeno de gente grande, alimentado por famosos. Começou com a turma do quarteto sul-coreano Blackpink. Não demorou, como todo modismo, para virar onda entre influenciadores a exibir as traquitanas coloridas em vídeos de unboxing, aquele truque meio tolo, mas viciante, de ir abrindo caixas para apresentar surpresas. E então deu-se a adesão de estrelas como Rihanna e Dua Lipa, fotografadas com as desajeitadas gracinhas penduradas em bolsas ou na cintura. No Brasil, despontou com artistas como Marina Ruy Barbosa e Pabllo Vittar.
Como onda no mar, vem e voltará para a reclusão do anonimato, mas é farra que não pode ser desdenhada. O valor de mercado da Pop Mart atingiu 1 bilhão de dólares, e contando. Uma peça simples custa algo em torno de 150 reais e pode ir a 800 reais. Uma raridade, digamos assim, do rapper e estilista Pharrell Williams, lotado na Louis Vuitton, foi leiloada ao equivalente a 176 000 reais. Não há estimativa confiável de quantas unidades foram vendidas em todo o mundo.
Loucura? Espuma promovida pela avalanche de visualizações no Instagram, no TikTok e no chinês Xiaohongshu? Pode ser, talvez seja mesmo uma monumental tolice. Mas, como tudo na vida é relativo, diante de tanta guerra um Labubu qualquer merece celebração, mesmo os falsificados.

Há quem tente até alguma explicação filosófica, que está valendo, sem dúvida, mas não precisa ser levada ao pé da letra. “Alguns consumidores se entregam a brinquedos para dar a si mesmos algum descanso”, diz Frédérique Tutt, especialista em indústria de brinquedos da Circana, empresa americana de análise de mercado. “Os Labubus nos levam a um universo ingênuo”, ecoa a consultora de moda Camile Stefano. “E, quando a moda se apropria de figuras assim, é para resgatar a imagem lúdica, infantil e até fantasiosa das pessoas. É uma forma mais leve de enxergar a vida.”
Leve, mas muitas vezes leviana. Não demorou para que golpistas fizessem desse sucesso um atalho para golpes. Atenção, portanto, a sites que anunciam descontos espetaculares. São contrafações, atalhos para roubar dos incautos informações de cartões de crédito. Atenção, portanto, aos larápios. Eles logo partirão a caminho de outras praias, deixando para trás os seres orientais que conquistaram o Ocidente. Na dúvida, em tempos tão bicudos, convém lembrar de uma frase do filósofo alemão Karl Groos (1861-1946): “Nós não paramos de brincar porque envelhecemos, mas envelhecemos porque paramos de brincar”. Brinquemos, pois, como fizemos no passado recente com o Tamagotchi e o Fidget Spinner, aquele disquinho giratório de girar a cabeça. Até o próximo modismo.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950