Em meados de 2017, Jeff Bezos, então presidente da Amazon e o terceiro homem mais rico do mundo, foi fotografado com um novo visual. De camisa preta de mangas curtas, colete e óculos escuros, ele exibia bíceps esculpidos na academia e parecia mais um guarda-costas do que o nerd franzino que fundou em 1994 aquele que se tornaria o maior e-commerce do planeta. Na época, muitos se divertiram ao comentar a aparência pouco convencional para um empresário de sua dimensão. Agora, contudo, o “efeito Bezos”, como o fenômeno vem sendo chamado, se espalhou pela alta cúpula de algumas das maiores empresas do mundo. É a nova — e inesperada — era dos CEOs “bombados”.
Aos 58 anos, Bezos continua sendo o exemplo a ser seguido: posa com camisa justa, faz questão de ser flagrado praticando esportes, andando a cavalo ou de jet ski, e aparece ao lado da namorada, a repórter de TV Lauren Sánchez. Mas não está sozinho: Pavel Durov, fundador do Telegram, praticamente só publica imagens sem camisa, exibindo os músculos. Jason Oppenheim, empresário do ramo imobiliário de luxo e celebridade televisiva, é outro que não perde a oportunidade para mostrar a boa forma, assim como o executivo Strauss Zelnick, da empresa de games Take-Two. Até o discreto Mark Zuckerberg, criador do Facebook, incluiu as artes marciais em sua rotina e publica vídeos em que troca golpes com o lutador profissional Khai Wu .
Muitos deles garantem que foi a pandemia — e não a inveja de Bezos e as inevitáveis comparações com os músculos alheios — a responsável pelas mudanças corporais. Em casa e sem poder circular, os executivos do topo hierárquico ficaram boa parte do tempo moldando braços, pernas e ombros. Mas há evidentemente outros aspectos em jogo. Anos atrás, a ditadura estética dizia respeito apenas às mulheres, que não escapavam do escrutínio de uma sociedade essencialmente machista. Agora, contudo, os homens fora de forma também passaram a sofrer com os olhares de reprovação. Isso ficou mais evidente no ambiente corporativo.
Não é de hoje que grandes empresas privilegiam executivos que aparentam boas condições físicas. “É um movimento relacionado ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, diz Pedro Glock, CEO da consultoria de recrutamento Glock Consulting. “O presidente se torna o exemplo daquilo que quer transmitir a todos sob sua liderança.” Antes, o padrão para os homens repetia quase o mesmo exigido para as mulheres — era preciso ser magro, muito magro, para ser visto com bons olhos nas companhias. Gordurinhas a mais poderiam significar desleixo consigo próprio e, portanto, um mau sinal para quem pretende comandar outras pessoas. O “efeito Bezos”, porém, adicionou músculos a essa equação. Não basta estar em boa forma — é preciso ter músculos de aço. No Brasil, o movimento também é visível. Um de seus precursores foi o empresário Abilio Diniz, que tem bíceps poderosos há bastante tempo e até criou um programa com dicas de práticas esportivas saudáveis para os funcionários de suas equipes.
Nem a honrosa exceção parece escapar à tendência. Fundador da Tesla e homem mais rico do mundo, Elon Musk sempre foi visto como um gordinho feliz. Mas isso está mudando. Em julho, Musk foi fotografado em seu iate em Mikonos, na Grécia, ao lado de Ari Emanuel, CEO da Endeavor, a dona do UFC. Enquanto Musk mostrava a barriga flácida, Emanuel ostentava um abdômen definido. Os internautas foram implacáveis e o dono da Tesla teve de se desculpar publicamente. “Acho que eu devia malhar mais”, postou no Twitter. Desde então passou a jejuar de forma intermitente e foi para a academia, mesmo admitindo “odiar fazer exercícios”. Não há dúvida: no mundo corporativo, os músculos venceram.
Publicado em VEJA de 5 de outubro de 2022, edição nº 2809