Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Icônica joia Trinity, da Cartier, sobreviveu ao tempo e ganha nova versão

A ideia é atrair os jovens. Há muito de marketing, sim, mas há também o interessante movimento natural do que vira cult, por merecimento

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h31 - Publicado em 11 fev 2024, 08h00

O francês Jean Cocteau (1889-1963), artista de infinitas atividades e criatividade transbordante — poeta, cineasta, dramaturgo, pintor etc. e tudo o mais que fosse possível — foi sempre personagem inspirador para quem o cercava. Com o devido perdão pela comparação, seria hoje como um influencer de redes sociais, afeito a mover mundos e fundos. Para onde apontava seus dedos, lá vinha uma nova onda artística e comportamental. De seus dedos, aliás, brotou uma das peças mais celebradas e perenes da joalheria, o anel Trinity, da Cartier, agora aos 100 anos de idade. Cocteau — um dos pais do surrealismo, mais para sonhos do que para o real — usava o modelo de modo inusitado, no dedo mindinho da mão esquerda.

CELEBRAÇÃO - A apresentadora e atriz Maisa Silva, 21 anos: selfie com a joia sempre em primeiro plano
CELEBRAÇÃO - A apresentadora e atriz Maisa Silva, 21 anos: selfie com a joia sempre em primeiro plano (@maisa/Instagram)

Ele ostentava, a rigor, duas unidades do Trinity. Adorava mexer para cima e para baixo as três argolinhas que o compõem — de ouro amarelo, branco e rosa, entrelaçados. Era um gesto que o definia, e não foram poucas as vezes em que posou para fotografias exibindo com exuberância as joias. Para um de seus companheiros sentimentais, o ator Jean Marais, parceiro no filme O Pecado Original, de 1948, ele deu de presente um Trinity colado a uma dedicatória perfeita em sua simplicidade: “A primeira faixa é para você, a segunda é para mim, e a terceira é o nosso amor”. A novidade, agora, como desenlace do poder infindável do objeto: ele caiu no gosto da chamada geração Z, formada por jovens de até 25 anos.

O que os atrai é a própria história do anel e o modo como ele pode ser costurado com os humores atuais. Os três elementos diferentes passaram a ser vistos como a materialização de um conceito muito em voga: a diversidade. Seria, portanto, uma bijuteria sem gênero, símbolo do amor em todas as suas formas — familiar, de amizade, conjugal, para quem quer declarar uma paixão, qualquer uma. Na origem, apogeu do movimento art déco, o designer Louis Cartier, neto do fundador da maison, pensou no número 3, considerado desde a Antiguidade clássica como a formação matemática perfeita, sinônimo de equilíbrio. Foi também aceno para uma referência mais prosaica: Louis tinha dois irmãos, Pierre e Jacques, e, naquele tempo, três lojas distribuídas em Paris, Londres e Nova York. Não demorou para que brotasse uma outra explicação: na doutrina cristã, o nome dado à peça é usado para se referir ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo como três manifestações de um só Deus. Para muitos, remete ao passado, presente e futuro, ou ainda ao infinito. “Além de ser atemporal, o Trinity é simples e confortável, pode ser usado de dia, à noite e até para dormir, sem que notemos estar lá”, diz Bianca Zaramella, professora de joalheria do Istituto Europeo di Design (IED). E, sublinhe-se, apesar de ter sido desenhado em 1924, é moderno, ergonômico e ainda agora de cara inovadora.

IMAGINAÇÃO - Cocteau e Romy Schneider: o luxo como gesto de simplicidade
IMAGINAÇÃO - Cocteau e Romy Schneider: o luxo como gesto de simplicidade (Fotos Cartier/Divulgação)
Continua após a publicidade

Tantos atributos o fizeram se espalhar com estardalhaço. Depois de Cocteau, andou pelas mãos de estrelas populares e chiques do cinema como Romy Schneider, Cary Grant, Alain Delon, Grace Kelly e Nicole Kidman. Chegou na realeza, é óbvio, com destaque para Kate Middleton. E pousou, enfim, nas articulações de ídolos infantojuvenis como a empresária Kylie Jenner, o ator Timothée Chalamet e, no Brasil, a atriz e apresentadora Maisa Silva, que não perde uma chance de fazer selfies no espelho, de modo que o Trinity apareça na mão que segura o smartphone. Não basta usá-lo. É preciso exibi-lo, como se fosse o manifesto — caro, para lá de 10 000 reais — de uma geração.

INSPIRAÇÃO - Louis Cartier, neto do fundador da maison francesa: ideia colada ao mistério do número 3
INSPIRAÇÃO - Louis Cartier, neto do fundador da maison francesa: ideia colada ao mistério do número 3 (Cartier/Divulgação)

O Trinity, dada sua longa vida, é peça relevante para os negócios e sobretudo para a imagem da Cartier, fundada em 1847 (valor de mercado estimado em 66,7 bilhões de reais), quase sempre associada muito mais à sisudez do que à juventude. O sopro juvenil, reafirme-se, é sempre bom. “Essa nova geração está conectada a tudo. Eles têm acesso a tanta informação e a tantas imagens… estão tão bem informados sobre o luxo, que os seus olhos olham tudo de uma forma diferente. São mais exigentes e conseguem identificar rapidamente o que querem ou ao que aspiram”, disse ao jornal El País Marie-Laure Cérède, diretora criativa de relógios e joias da grife. Tudo indica, portanto, que a carreira do Trinity prossegue, em forma de símbolo — associado também a braceletes e colares com a tríade amarelo, branco e rosa. Há muito de marketing, sim, mas há também o interessante movimento natural do que vira cult, por merecimento. Direto ao ponto: vão-se os dedos, ficam os anéis.

Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2024, edição nº 2879

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.