Há um mês fiz um explante mamário, o procedimento de remoção do silicone nos seios. Faz muito tempo que planejo isso, mas não encontrava um médico que me encorajasse. Sempre diziam que não ia dar certo, que não teria um bom resultado. Ficava chateada, mas acabava aceitando. Coloquei silicone quando meu primeiro filho, Zion, nasceu, porque meu peito cresceu e caiu. Sou modelo e trabalho com o corpo. Precisava que ele estivesse legal para vestir bem as roupas escolhidas pelos estilistas. Mas a verdade é que nunca me acostumei, tinha a sensação de ter algo esquisito dentro de mim. Durante vinte anos, busquei alternativas para tirar ou pelo menos melhorar o incômodo. Me submeti a sete cirurgias para mexer no silicone, sempre na tentativa de removê-lo, mas todas as vezes frustrada pelos médicos. E, após os procedimentos, chorava ao ver o resultado, porque parecia que colocavam mais e mais, e aquilo tomava todo o meu colo.
Daí que até dormir era um problema: se deitasse de barriga para cima, acordava de madrugada com uma pressão no peito, sentia que não conseguia respirar e tinha que virar de lado para aliviar. De barriga para baixo, percebia aquelas duas bolotas esquisitas ali. O fato é que vivi duas décadas com um peso que não era meu. Até que encontrei o doutor Marcelo Kolling, que não só me incentivou a fazer o explante como me deu segurança de que tudo correria bem e ficaria bonito. Ele até falou em pôr um silicone menor, mas eu fui enfática em dizer que não queria nada. Ele me sugeriu, então, colocar um pouco de gordura do meu próprio corpo no lugar. Pela primeira vez tive medo da cirurgia, estava insegura e preocupada, porque não é simplesmente tirar. Tem que refazer o peito, é uma operação trabalhosa. Mas deu certo. E ficou lindo.
Foram aplicados 300 mililitros de gordura retirada do meu joelho, que se espalhou nas mamas e deu ótimo resultado. Antes, tinha bem menos, 185 mililitros de silicone em cada seio, mas ficavam aquelas bolotas estranhas, especialmente no lado direito, que saltava e eu tentava esconder com roupas mais largas. Só que, em qualquer foto com uma roupa mais apertada, eu sentia, dava para ver e me chateava muito. E não estava errada, tanto que essa foi a maior complicação da operação: tirar o silicone do lado direito, porque ele encapsulou e estava grudado em um músculo. Mas conseguiram tirar tudo. Sem silicone, me sinto mais leve e mais dona de mim.
Também estou mais confiante profissionalmente. Como modelo, meu corpo sempre foi pautado para a moda, para o olhar dos outros, e agora também está pautado para mim. E isso me deixa feliz. É claro que sempre vai ter aquela pessoa que vai falar, vai julgar… Nas redes sociais, há muitos comentários maldosos e existe a pressão de “precisar” ser aceita. Ainda mais no meu caso, em que tenho que estar sempre na minha melhor versão. Sei que existem muitas mulheres querendo tirar o silicone e têm receio. Então, se eu puder dar um conselho, diria que façam, porque temos que ser protagonistas da nossa própria vida, independentemente da opinião dos outros.
O fundamental é ter força e segurança para dar o primeiro passo e priorizar seu bem-estar. Acredito que a beleza natural está exatamente aí, em ser verdadeira consigo mesma. Fui verdadeira comigo quando decidi tirar o silicone. Não tenho nada contra procedimentos estéticos. Inclusive faço alguns deles, os mais “naturais”, como os estimuladores de colágeno. Mas não gosto de nada injetado, talvez por isso nunca tenha me adaptado ao silicone. Só me submeto hoje ao que melhora minha saúde e longevidade e minha carreira. O principal é estar bem. E hoje eu estou. Minha profissão é feita de recomeços, de temporadas. E me sinto pronta para recomeçar mais uma vez.
Isabeli Fontana em depoimento dado a Simone Blanes
Publicado em VEJA de 1º de dezembro de 2023, edição nº 2870