Negócios prateados: a tendência da moradia sob medida para a população idosa
Apartamentos são destinados ao conforto e à segurança da população grisalha

Há um interessante e bonito movimento global, e de especial relevo no Brasil: zelar pela moradia da população idosa, tema que até muito recentemente era desdenhado, quase esquecido. A tendência — de construção e oferta de residências desenhadas para a turminha da maturidade — é filha da estatística. Até 2050, a população mundial com mais de 65 anos deve chegar a 1,6 bilhão de pessoas, mais do que o dobro do que havia no planeta em 2021. Entre os brasileiros, em 2023 as pessoas que já passaram dos 60 anos deixaram de ser a menor taxa populacional e superaram a dos jovens de 15 a 24 anos. Os maduros representam hoje 15,6%, ante 14,8% da mocidade. Em 2046, os 60+ serão 28%, recorte maior do que todos os outros grupos. Em 2070, o percentual subirá para 38% — ou seja, mais de um em cada três brasileiros será idoso. É transformação revolucionária.

Não à toa, cresce com vigor o mercado de incorporações destinadas a essa faixa de público. No exterior, especialmente nos Estados Unidos, Canadá e Europa, sempre houve a tradição de oferecer a essa turma imóveis sob medida. A ideia é conforto e, por que não, em alguns casos, até luxo atrelado a cuidados com a saúde e entretenimento. O alvo são clientes que gozam de autonomia, ao contrário dos inquilinos das casas de repouso. Uma das inspirações, símbolo do sucesso do residencial sênior, é a operadora americana Sunrise, com mais de 270 empreendimentos espalhados por Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. “No Brasil, a iniciativa é nova e começou a ser pensada com a pandemia”, diz André Marin, diretor-geral da Bioos, braço da construtora curitibana Laguna, focada prioritariamente em clientes com mais de 60 anos.
O primeiro prédio da Bioos deve ser entregue no próximo mês. Trata-se de uma torre de 22 andares, com apartamentos de 50 a 80 metros quadrados, de alto padrão, com acessibilidade, segurança, áreas de lazer e serviços de concierge. Haverá também suporte de enfermaria nas 24 horas do dia, com profissionais treinados a oferecer medicamentos e socorro de urgência. Nos apartamentos, os fogões serão elétricos, com piso aquecido, barras e sensores de queda espalhados por todos os aposentos. As unidades custam a partir de 1,2 milhão de reais e o condomínio, 1 200 reais.

Há empresas que, depois de medir a mudança demográfica e de humores da sociedade, tiveram a inteligência e a correção de se reinventar. É o caso da Vitacon, de São Paulo, criada há quinze anos de olho no público jovem e que agora mudou o tom da prosa. Junto com a Housi, startup da empresa que cuida da gestão e concepção do negócio, lançou o primeiro prédio Senior Living da capital. A torre abrigará 300 unidades, de 30 a 60 metros quadrados, com serviços de fisioterapia, telemedicina, acompanhamento de enfermeiras e aulas de ioga, entre outras facilidades, contratadas conforme a demanda do morador. A infraestrutura organizada em um aplicativo permite que o cidadão pague apenas pelo que usar. “É fundamental que os modelos de engenharia e arquitetura possam ser feitos em escala, adaptáveis para prédios de outras construtoras”, diz Alexandre Frankel, fundador da Vitacon. O empreendimento abriu as vendas apenas para investidores por enquanto, e ainda não tem previsão de entrega. Os apartamentos estão sendo vendidos a partir de 1 milhão de reais.
Há beleza estética, sem dúvida, por ser atraente e necessária, mas há zelo particular com o design indicado por especialistas em anatomia e mecânica do corpo dos veteranos. Pudera: segundo o Ministério da Saúde, 70% das quedas envolvendo idosos acontecem dentro de casa; 30% desses acidentes causam a morte e pelo menos 40% alguma lesão grave, principalmente no cérebro e na medula. Os tempos estão mudando, felizmente, na atenção com o inevitável tsunâmi grisalho — e nada como celebrá-los dentro do lar.
Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2025, edição nº 2961