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Novas pesquisas investigam se certos tipos de comida realmente podem viciar

A neurociência ainda tem muito o que desvelar sobre a anatomia da gula. Já não resta dúvida, porém, sobre as consequências do abuso

Por Victória Ribeiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 set 2025, 08h00

Com quatro décadas de carreira, a psicóloga paulistana Fátima Vasques, do Grupo de Dependência de Comida do Instituto de Psiquiatria da USP, começou a atender, nos últimos anos, a um perfil diferente de pacientes: eles se dizem “viciados em comida”. A expressão, com forte apelo popular, protagoniza um acalorado debate científico. Afinal, alguns alimentos teriam a capacidade de propiciar dependência, a exemplo do que ocorre com cigarro, álcool e drogas ilícitas? Embora “vício em comida” não conste como um diagnóstico médico, o assunto esquentou com a publicação recente de um experimento, baseado em exames sofisticados, com uma das bebidas mais irresistíveis, o milk-shake. Os pesquisadores ligados ao National Institutes of Health (NIH), a principal agência federal dos Estados Unidos para a pesquisa biomédica e de saúde, testaram em voluntários se a ingestão provocaria, no cérebro, explosão na liberação de dopamina, a substância por trás do prazer e associada à dependência química. O resultado chocou parte dos experts e… dos fãs de carteirinha da delícia. O milk-shake não deu um banho viciante de dopamina.

POR OUTRO LADO - Ultraprocessados: formulação que induz a excessos
POR OUTRO LADO - Ultraprocessados: formulação que induz a excessos (Marcio Pannunzio/Fotoarena/.)

A história, é claro, não se encerra com esse estudo. Pouco depois da divulgação, outro grupo de cientistas correu para publicar um artigo declarando ser uma “omissão perigosa” descartar a hipótese de que ultraprocessados — categoria que abrange industrializados cheios de açúcar e aditivos — possam ser viciantes. A trama da discussão é, de fato, densa. Se alguns alimentos induzem a repetição, é comum que abalos na saúde mental abram as portas a acessos de gula. “Não é o vício por comida em si. Ele pode ser apenas consequência de ansiedade ou depressão”, diz a psicóloga Fátima Vasques. Apesar de a ciência ainda não ter batido o martelo sobre a existência de uma dependência específica por comida, os profissionais já dispõem de um diagnóstico para aquelas pessoas que são vítimas de ataques intempestivos de comilança — a compulsão alimentar. Enquanto o “vício” seria marcado pelo beliscar constante, de preferência do mesmo produto, na compulsão há ingestão exagerada de diversos alimentos. Não raro, o que desce goela abaixo são itens hiperpalatáveis, como os tais ultraprocessados — refrigerantes, salgadinhos, massas prontas… A combinação de açúcar, gordura e sal pode fazer uma pessoa fragilizada ter ainda mais dificuldade de resistir.

Uma das maiores críticas à caracterização de um vício em comida, porém, é que, ao contrário de drogas em geral, ela não atende a critérios clássicos, como abstinência e tolerância. O efeito seria, assim, mais psicológico do que químico. “Muitos alimentos podem ter esse aspecto de dependência pela carga emocional que carregam para algumas pessoas”, diz o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. “Elas sofrem para se controlar, sentem culpa depois, mas o processo é diferente do que ocorre com as drogas.” Uma situação peculiar envolve o café: tem gente que se sente mal quando não toma justamente pela carência da cafeína e de sua ação em mecanismos cerebrais.

arte vício comida

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Talvez mais relevante do que a via neural que propicia a perda de controle sobre um alimento seja todo o contexto envolvido. Um contexto em que a oferta de ultraprocessados, cujo consumo exagerado é associado a ganho de peso e doenças crônicas, se soma a outros aspectos. “Apesar de não acreditar em um vício por comida hiperpalatável, me parece claro que o descontrole diante desses produtos resulta da soma de fatores psicológicos, sociais e ambientais”, afirma o nutricionista Mauro Proença, ligado ao Instituto Questão de Ciência. A neurociência ainda tem muito o que desvelar sobre a anatomia da gula e dos vícios. Já não resta dúvida, porém, sobre as consequências do abuso. Para a mente e o corpo.

Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2025, edição nº 2962

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