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Os bilhões são delas: enormes fortunas estão, agora, sob controle feminino

O fenômeno ocorre seja por herança, por divórcio ou por negócios bem-sucedidos. A filantropia agradece

Por Paula Freitas 13 jul 2024, 08h00
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  • Até pelo menos a metade do século passado, lidar com dinheiro era coisa de homem — e ainda é, em muitos pontos do planeta. Mas, por motivos diversos, sendo os principais o fato de elas viverem mais tempo e seu considerável avanço na seara do empreendedorismo, as mulheres estão se apoderando das fortunas que movem o mundo. Na lista de bilionários da revista Forbes, elas ocupam 369 posições, número que ainda é uma gota d’água diante dos 2 412 homens do ranking, mas que representa um salto de 114% na última década. E devem ser as maiores beneficiárias do que está sendo chamado de “a grande transferência de riqueza” — trilhões de dólares acumulados pelos baby boomers, a geração de americanos nascidos no pós-guerra, que até 2030 devem ser repassados para as esposas à medida que os maridos milionários morrem ou ficam incapacitados.

    Um efeito colateral desse fenômeno pode repercutir pelo mundo todo e, em última instância, contribuir até para a redução da desigualdade social: prevê-se, com a expansão do universo das muito ricas, um aumento correspondente no volume de doações para a filantropia, visto que elas são notoriamente mais generosas do que eles.

    Ex-mulher de Jeff Bezos e seu braço direito na fundação do império Amazon, MacKenzie Scott saiu do divórcio com 35,6 bilhões de dólares e em apenas três anos já doou 14 bilhões deles para 1 621 instituições de caridade. Outra divorciada no clube dos bilionários da tecnologia, Melinda French Gates, ex do dono da Microsoft, reservou 5 bilhões de dólares “para pessoas e organizações que trabalham em prol de mulheres e famílias em todo o mundo”. Outras megarricas de conhecida mão aberta são a cantora Taylor Swift, novata no time; Melanie Perkins, criadora da plataforma Canva; e Priscilla Chan, mulher de Mark Zuckerberg, da Meta e do Facebook. “Mulheres são ensinadas a ser altruístas, a colocar o outro em primeiro lugar”, explica a socióloga Clara Maria Araújo. A motivação para a filantropia também tem raízes na neurociência: uma pesquisa conjunta entre cientistas da Alemanha, Suíça e Holanda mostrou que a liberação de dopamina, hormônio da felicidade, aumenta no cérebro de mulheres, mais do que no de homens, quando dividem o dinheiro. “Elas sentem necessidade de partilhar para não serem interpretadas como egoístas, algo incentivado nas meninas desde a infância”, afirma Marta Souza, da Sociedade Brasileira de Psicologia.

    MÃO ABERTA - MacKenzie (à esq.), Taylor e Priscilla: donas de bilhões de dólares, costumam fazer generosas doações
    MÃO ABERTA - MacKenzie (à esq.), Taylor e Priscilla: donas de bilhões de dólares, costumam fazer generosas doações (Taylor Hill/Gareth Cattermole/David Paul Morris/Getty Images)

    Os cálculos sobre “a grande transferência de riqueza” variam, mas, em geral, antecipa-se que quase 85 trilhões de dólares vão ser repassados pelos baby boomers entre agora e 2045, sendo 16 trilhões nos próximos dez anos. Boa parte irá para viúvas, sem falar em filhas e netas, e na ordem geral das grandes fortunas poucas novidades devem acontecer, já que o grosso das heranças se concentra no célebre 1% que compõe os super-ricos. No entanto, a perspectiva de que um grande volume de dólares passe para o controle de mãos femininas pode ter impacto significativo na filantropia. Além de se sentirem bem praticando a generosidade, as mulheres estão mais atentas do que os homens às mazelas e desigualdades sociais, por serem mais expostas a elas em ações comunitárias — um campo dominado pelo sexo feminino.

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    Levantamento recente da Lilly Family School of Philanthropy, centro de estudos sobre filantropia da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, revelou que, entre os ricaços, elas doam com mais frequência e em quantias maiores do que eles devido à crença de que “podem fazer diferença na solução de problemas que as afetam ou a pessoas próximas”, como a luta por justiça racial e pelos direitos da comunidade LGBTQIA+. Mulheres em geral, e não só bilionárias, são 20% mais dispostas do que homens a distribuir alimentos, roupas e itens de primeira necessidade. “Para os homens, dinheiro representa poder, realização e prestígio. Já as mulheres tendem a pensar em dinheiro em termos de segurança, liberdade e uma forma de atingir seus objetivos”, diz Debra Mesch, diretora do Instituto de Filantropia Feminina. É esperar para ver se, na conta bancária delas, mais recursos irão estreitar o fosso entre ricos — no caso, riquíssimos — e pobres.

    Publicado em VEJA de 12 de julho de 2024, edição nº 2901

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