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Paola Antonini: ‘Passei a ter um maior carinho pelo meu corpo’

Ela perdeu a perna em um acidente, mas ganhou uma missão de vida — e uma Barbie para chamar de sua

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 abr 2025, 20h24 - Publicado em 12 abr 2025, 08h00

Minhas melhores memórias de infância são dos finais de semana numa casa de campo que frequentávamos com a família. Brincava o dia inteiro, corria de um lado para o outro, só parava para ficar com as minhas bonecas Barbie ou ajudar minha mãe. Sempre gostei de esportes, mas, assim que fui crescendo, comecei a sonhar ser jornalista. Depois, cheguei a entrar na faculdade de administração, mas tranquei, porque queria seguir o caminho imaginado. Aos 20 anos, me matriculei no curso de jornalismo. Mas aí sofri o acidente que mudou tudo. Era 27 de dezembro de 2014. Me preparava para viajar a Búzios, onde passaria o réveillon com meu namorado. Combinamos de sair cedo e, na hora em que eu estava carregando as últimas coisas no porta-malas, na frente do prédio, veio um carro do nada e me atingiu. Só vi um clarão e ouvi um barulho.

Quando me dei conta, estava no chão. Não fiquei desacordada em nenhum momento. Só pensava o seguinte: não morri, mas machuquei minha perna, porque sentia muita dor. Fiquei ali, deitada entre os carros, até chegar a ambulância, que demorou uns 45 minutos. Lembro do meu namorado perto, do porteiro correndo para ver o que tinha acontecido e, em minutos, meus pais e meu irmão segurando um lençol para me cobrir. Não olhei para a minha perna devido ao olhar assustador das pessoas. Mesmo assim, eu ainda acreditava que iam costurá-la e eu viajaria. Não tinha noção do que tinha acontecido.

Quando cheguei ao hospital, fizeram exames, perguntaram se sentia meu pé, mas já não sentia. Me levaram para a cirurgia. Perguntei à enfermeira: vou morrer? Não tinha me despedido de ninguém. Ela disse que não. Foram catorze horas de operação. Quando acordei, vi minha mãe. Perguntei se tinham colocado pinos e ferros, e ela desconversou. No fundo, eu sabia que já tinham amputado. Mais tarde, ao falar com meus pais, entendi pelo que passei: foi uma amputação total da perna esquerda. O susto foi grande, mas ao mesmo tempo só conseguia agradecer por estar viva. Esperei dois dias para ver meu corpo. A primeira impressão foi com uma prótese encaixada, e não achei tão ruim. Uma semana depois é que observei direitinho a falta da perna, sentada em uma cadeira, em frente ao espelho. Não fiquei triste nem revoltada, tamanha era a minha gratidão. Pelo contrário, passei a ter mais carinho pelo meu corpo, entender que é o que eu tenho e terei para o resto da vida. Era um exercício diário de olhar, enxergar e agradecer. Até hoje é assim.

Tem dias que me sinto mais confiante, outros nem tanto, principalmente sem a prótese. Mas sou feliz com a minha perninha colorida e brilhante. Adoro trocar as cores, combinar com as roupas e até com o esmalte das unhas. Talvez seja esse o meu segredo de leveza. Enfim, foram seis meses focada na reabilitação. Reaprendi a andar e vivo um dia de cada vez. Sempre me recusei a sofrer por antecipação. Perder uma perna traz uma mudança física enorme, mas pequena se compararmos com o fato de eu ainda estar aqui.

Depois acabei trancando a faculdade de jornalismo porque o acidente me levou a exercer outras atividades. Virei influenciadora para trabalhar essa causa, fiz algumas atuações, inclusive numa série da Netflix, Todo Dia a Mesma Noite, em que interpreto uma sobrevivente do incêndio da Boate Kiss, inspirada na Kelen Ferreira, de quem me tornei amiga. Fico feliz de saber que inclusive a ajudei a aceitar sua própria história de amputação. E foi com ela que recebi a honra de virar uma Barbie Role Model, linha de bonecas especiais feitas para homenagear mulheres inspiradoras. Eu, que adorava as Barbies, virei uma delas, a versão PCD. É uma iniciativa leve e lúdica que soma forças ao trabalho que desenvolvo junto ao meu Instituto Paola Antonini, um centro que criei para auxiliar jovens de até 21 anos com reabilitação gratuita e doação de próteses. Eu perdi uma perna, mas ganhei um propósito de vida gigante.

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Paola Antonini em depoimento a Simone Blanes

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2025, edição nº 2939

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