Pode parecer irônico, mas diz a lenda que Martinho Lutero (1483-1546), o austero contestador da Igreja Católica, foi quem enfeitou um pinheiro de Natal pela primeira vez. Relatos históricos informam que, depois de um passeio sob o céu estrelado, o monge alemão resolveu iluminar a árvore com velas. Mais de cinco séculos se passaram, e as velas deram lugar a uma profusão de enfeites, incluindo luzes de LED. Hoje são bolas, bichos de pelúcia, flores, estrelas e até apetrechos da Disney dividindo espaço com adornos clássicos e religiosos. Quanto mais empetecado e imponente, melhor. Goste-se ou não, fato é que o símbolo da grande celebração cristã também se rendeu ao fast fashion, a onda de consumo rápido das novas tendências de estilo e decoração. Com um diferencial e tanto: agora, multiplicam-se serviços de criação, montagem e aluguel de árvores e companhia que atendem às demandas sob medida. Foi-se o tempo de montar o pinheiro. Quem quer surpreender as visitas pode contratar um “personal natalino”.
O céu é o limite. É possível escolher modelos do catálogo ou confeccionar peças exclusivas. Pioneira na área, a paulistana Sabrina Guimarães, desenvolveu uma árvore com base de madeira de 2,30 metros para sustentar diversos brinquedos elétricos (de roda-gigante a trenzinho). Tudo se movimenta e se ilumina. A árvore virou uma obra de arte — com preço que faz jus à comparação, 33 000 reais. Ela criou essa peça para enfeitar a sala da xará, a apresentadora Sabrina Sato. “As pessoas ficam encantadas”, diz Guimarães, que se dedica a esse filão há cinco anos.
O encanto é real, mas o que vale mesmo é a praticidade. Quem aluga não desperdiça tempo para montar, desmontar, embalar e depois achar um local para guardar a decoração, que vira um trambolhão no armário. Neste Natal, a atriz Claudia Raia optou por passar as festas na casa que a família tem em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, que já está arrumada para a ocasião com uma árvore alugada. Trata-se de um pinheirão, com 3 metros de altura, enfeitado com bolas gigantes, pretas e brancas, além de muito brilho — a tendência da estação. A artista vai conferir a produção só quando chegar com os filhos para as festas. Encerradas as comemorações, uma equipe vai a Bragança retirar a árvore, que volta para o galpão de 300 metros quadrados que Guimarães mantém na capital paulista.
No cardápio natalino, há ainda a opção de alugar apenas os enfeites da árvore ou mesmo estender a decoração para outros ambientes. “Também faço a mesa da ceia e dou um clima especial à sala, ao lavabo e à varanda, sempre de acordo com o perfil e o gosto do cliente”, diz a decoradora Luiza Fiorito. O serviço vem ganhando força e concorrentes. As casas de aluguel faturam, em dois meses de atividade, novembro e dezembro, 800 000 reais em média, o suficiente para manter o negócio no resto do ano. “Em 2023, as vendas de decoração natalina aumentaram 8%”, afirma Patrícia Brito, gestora da ABCasa, a associação do setor. Martinho Lutero, é natural, não poderia imaginar quantas alegrias e movimentações financeiras sua ideia traria ao mundo, todo santo Natal.
Publicado em VEJA de 15 de dezembro de 2023, edição nº 2872