Pessoas se importam menos com seus gatos do que com seus cães, diz estudo
Levantamento sugere que preferência está ligada a processos históricos e comportamentais diferentes entre as espécies
Há quem diga que os cães são os melhores amigos do homem. Um estudo publicado no dia 23, no periódico científico Frontiers, sugere que a afirmação pode não ser mera impressão, demonstrando ter algum embasamento em dados. Informações levantadas por pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, indicam que os donos de animais de estimação são menos apegados emocionalmente e menos dispostos a financiar cuidados médicos para seus felinos do que para seus escudeiros caninos. As justificativas para essa preferência podem estar relacionadas ao comportamento dos gatos, que aparentam ser menos dependentes dos cuidados e afetos humanos.
A boa notícia para os defensores dos felinos é que os resultados podem ser impactados por diferenças culturais. Os pesquisadores recrutaram amostras representativas de tutores de cães e gatos entre 18 e 89 anos de três países: Reino Unido, Dinamarca e Áustria. A ideia era responder se os responsáveis pelos animais seriam mais apegados e dispostos a financiar tratamentos para seus cachorros ou para seus gatos. Os países selecionados para o experimento não foram aleatórios e representam diferentes períodos de urbanização. Isso porque os pesquisadores queriam confirmar ou não a hipótese de que a urbanização, e o consequente distanciamento da vida e dos animais rurais, poderia ser um fator de influência no modo como nos relacionamos com nossos pets hoje.
Embora atualmente os três países se assemelhem, diferenças relevantes permearam seus processos de urbanização. Enquanto o Reino Unido estava quase completamente urbanizado no final do século XVI, o mesmo só aconteceu na Dinamarca no fim do século XIX. Como a Áustria só atingiu seus contornos atuais em 1918, é difícil estabelecer uma data precisa para sua urbanização, mas acredita-se que o processo tenha se dado antes da Dinamarca. “Pensamos ser possível que esses padrões históricos pudessem levar a diferenças entre países porque, em ambientes rurais tradicionais, os gatos eram abundantes e normalmente não eram permitidos dentro de casa”, diz o estudo. “Dada essa relação culturalmente específica com os gatos, não seria surpreendente que eles ocupassem um lugar abaixo na chamada escala sociozoológica em países onde o passado agrícola era bastante recente (como a Dinamarca), mas ocupassem um lugar mais alto, mais próximo dos cães, em países que foram urbanizados há muito tempo (como o Reino Unido e a Áustria).”
Para testar as hipóteses, os pesquisadores selecionaram 2.117 pessoas que cuidavam de cães ou gatos, 844 eram tutores de cães, 872 de gatos e 401 dividiam-se cuidando de ambas as espécies. Os participantes responderam a um questionário com perguntas capazes de determinar as diferentes dimensões do cuidado. As questões abordaram o apego emocional dos tutores, bem como os investimentos em assistência médica e as expectativas em relação aos tratamentos veterinários.
Em geral, os resultados mostraram que os donos são mais apegados aos cães do que aos gatos. Os tutores disseram segurar seus cachorros com mais frequência e esperar que melhores tratamentos fossem disponíveis para seus peludos, mesmo que viessem com custos adicionais. Apesar de os cães serem os favoritos em todos os países analisados, os resultados apresentaram diferenças consideráveis em cada um deles. Na Áustria e na Dinamarca, os índices de apaixonados por cães superam de maneira considerável aqueles que preferiam os gatos. Já no Reino Unido, a diferença foi apenas ligeiramente superior.
As preferências humanas podem remeter ao passado agrícola recente, em que cães eram muito mais próximos das pessoas do que os gatos, ou a fatores diversos, como a dependência canina e o fato de cães estarem muito mais próximos dos humanos em seus afazeres cotidianos, como as rotinas de passeios e exercícios, por exemplo. Os pesquisadores salientam que, embora os dados apontem para um favoritismo canino, apenas estudos mais amplos e comparativos entre diferentes países poderão confirmar se a tendência é universal. O amor pelos peludos, no entanto, segue inquestionável.