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Prorrogamos a Black: VEJA com preço absurdo

“Repensei a vida toda”, diz empresário que ficou à deriva no mar

Maikel Araujo, 41, chegou a gravar vídeo de despedida para a mulher

Por Duda Monteiro de Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 dez 2025, 15h56 - Publicado em 29 nov 2025, 08h00

Ficar à deriva no mar em meio ao nada e sem saber se sairia vivo dali mudou minha forma de ver o mundo. Era um domingo de setembro e o dia estava amanhecendo quando eu e um amigo, Ronald, fomos pescar no litoral sul do Espírito Santo, como tantas vezes já fizemos. Às 7 da manhã, entramos na água. A ideia era retornar perto da hora do almoço. Sou mergulhador profissional e tenho experiência com pescaria desde a adolescência. Pelo menos uma vez por semana, lá ia eu, a bordo do meu barco, me dedicar a esta atividade que tanto me traz aquela sensação boa de liberdade. O céu estava limpo, o mar calmo, e logo lotamos a lancha de peixes. O imprevisível veio na viagem de volta. De repente, deu uma pane elétrica, e o motor parou. Estávamos muito longe da terra firme e não havia sinal de celular. Lancei a âncora e usei o rádio para tentar uma chamada de socorro, mas ninguém ouviu, e a bateria acabou. Ficamos incomunicáveis. E assim começou o sufoco da espera.

Do céu azul, passamos ao breu. O vento batia e a ondulação aumentava. Acendi a lanterna na esperança de alguma embarcação nos avistar. Nada. É curioso como a cabeça se adapta numa situação-limite como essa: aceitei que ninguém viria durante a noite, era impossível, e resolvi descansar. Tínhamos medo de colidir com um navio, então nos revezamos no sono. Quando acordei, o cenário havia mudado. As ondas alcançavam 4 metros de altura e os ventos, 70 quilômetros por hora. Com esforço, Ronald conseguiu improvisar uma vela. E renovei as esperanças — o GPS sinalizava que íamos cruzar uma região de alto movimento. Eis que, já em tensão máxima, esbarramos com uma baleia, que estacionou bem embaixo da lancha. O perigo era ela saltar e nos derrubar. Acabou indo embora e, após dez horas, enxergamos os tão desejados barcos. Fizemos todo tipo de sinal, mas ou não nos viam, ou não entendiam que precisávamos de ajuda.

Para sobreviver, começamos a comer os peixes crus que conseguíamos pegar. Tinha levado apenas três pães, um pouco de queijo e uma garrafa de água. Sem hidratação, meu corpo passou a dar aos poucos sinais de esgotamento. Após a segunda noite, me bateu uma desesperança. A única saída era pular e tentar nadar até o continente, com chances remotas de chegar com vida. Foi aí que tomei a dura decisão de gravar no celular um vídeo de despedida para a minha esposa, que está grávida de oito meses da nossa primeira filha. Pensava em como seria o rosto desse bebê que eu nem conheceria. Refletia sobre todas as vezes que poderia ter aberto mais minhas emoções e não o fiz. Àquela altura, trabalhava com a ideia da morte, que, de distante, ficou tão próxima. Mas, quando menos esperava, um navio se aproximou. Usei toda a minha força para gritar por ajuda com uma garrafa vazia na mão. Um homem ouviu e pegou um binóculo. Por minutos, ele sumiu, e achei que passariam direto. Até que soltaram uma fumaça preta, sinal de que iam nos ajudar. Já haviam se passado cinquenta horas e estávamos em Campos, no Rio de Janeiro, a 200 quilômetros de onde partimos.

O resgate foi difícil, o mar estava ruim. Ao chegar ao convés, desabei em choro. E pedi um telefone para ligar para meu pai, o único número que lembrava de cor. Ele atendeu e começou a soluçar. Era a primeira vez que o via desse jeito. Só depois fui tomar banho, beber água e comer. Tinha o impulso de gritar: estou vivo! Ao abrir a porta de casa, encontrei minha mulher acordada, com aquele barrigão. Nossa filha nasce em poucos dias e vem a um mundo que ganhou novo sentido para mim. No barco, me doía demais pensar que ia morrer brigado com meu irmão, com quem já fiz as pazes. Passei uns tempos longe da água, com receio. A primeira vez que tentei sair para pescar, entrei em pânico. Mas já superei isso e, agora, estou também mais cuidadoso. Para mim, mar é vida.

Maikel Araujo em depoimento a Duda Monteiro de Barros

Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2025, edição nº 2972

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