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Uma nova onda no turismo: passar uns dias nas casas de personalidades

Tendência ganha terreno com a revolução do Airbnb

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h10 - Publicado em 4 nov 2023, 08h00
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    O tempo parece ter congelado em 2 de março de 1991 — o dia em que morreu o compositor e cantor francês Serge Gainsbourg. Ele tinha 62 anos. Ali dentro, no apartamento da rua Verneuil, número 5 bis, em um edifício de dois pisos do bairro de Saint-Germain-des-Près, em Paris, ele e sua companheira de vida, Jane Birkin, faziam arte e amor, e não necessariamente nessa ordem. A luz é tênue, as paredes são negras. O piano Steinway tem ao lado uma imensa fotografia de Brigitte Bardot — uma das namoradas do artista que vivia cercado de uma nuvem de fumaça de cigarros Gitanes e outras coisas mais. O ambiente soa surreal — e, no entanto, é realíssimo.

    O endereço acaba de virar a sede do Museu Gainsbourg — com ingressos lotados até o ano que vem. Os grafites do lado de fora não autorizam dúvida: virou um templo pop, o santuário para ver de perto como vivia o autor de clássicos do cancioneiro francês como Je T’Aime Moi Non Plus. Diz Charlotte, filha do casal do barulho, cujos gestos soam idênticos aos da mãe: “Tudo foi conservado porque havia pouca iluminação, ninguém era autorizado a entrar e para mim era importante conservar os odores: o perfume Van Cleef, o cigarro, o álcool”. Numa das mesas está a máquina de escrever elétrica IBM adorada pelo dono, além do grosso Tratado de Patologia Médica que ele consultava com avidez.

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    MÁGICA - O imenso oásis verde do celebrado ilusionista americano: mansão construída no início do século XX (@The Houdini Estate/Facebook; NY Daily News Archive/Getty Images)

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    Eis o mundo de um personagem querido, um ícone da França recente. O fascínio por conhecer o cotidiano de Gainsbourg é o capítulo ruidoso de um movimento que não começou hoje, mas que não para de crescer: o prazer de conhecer a intimidade de gente famosa. Pode ser em museus, sim — como a mansão de Elvis Presley em Memphis —, mas especialmente dentro dos lares das celebridades. É possibilidade inaugurada pela revolução do turismo promovida pelo Airbnb. As ofertas são de tirar o fôlego. Pode ser a mansão do início do século XX do ilusionista americano Harry Houdini (1874-1926), oásis verde no coração de Los Angeles, com direito a mergulho na piscina onde ele ensaiava o truque de entrar acorrentado na água e dali sair vivinho da silva. Há também o casarão de Leonardo DiCaprio em Palm Spings, afeito a festas. E tem mais: o lar de Jimi Hendrix no Havaí, de tranquilidade no avesso de sua extravagante figura pública; a morada de Monet em Giverny; o abrigo de F. Scott and Zelda Fitzgerald no Alabama etc. A onda chegou ao Brasil. Alceu Valença pôs para alugar o sobrado em Olinda (680 reais a noite), abrigo de muitas de suas canções, “embalado pela brisa que vem do mar e da paisagem deslumbrante e atemporal da cidade histórica”.

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    BON VIVANT - A luz da Califórnia na casa de um dos mais celebrados ícones de Hollywood: ideal para abrigar festas (Brandon Magpantay; Stephane Cardinale/Corbis/Getty Images)

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    A brincadeira caiu no gosto dos viajantes por motivos evidentes. “As músicas do Alceu fazem parte da minha vida”, diz a engenheira civil Raissa Suassuna Macedo, hóspede do sobrado de Alceu. “Saber que ele tocou violão no jardim, deitou na rede, é maravilhoso.” A sensação é indizível, feita de superlativos, mas há alguma explicação. “Estamos falando de pessoas que são obje­to de desejo e a chance de conhecer um aspecto exclusivo mexe com uma necessidade humana muito básica, a de conhecer o desconhecido”, diz a psicóloga comportamental Andressa Martins. Que as portas das celebridades permaneçam abertas.

    Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2023, edição nº 2866

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