O maestro russo Valery Gergiev foi demitido do seu posto de condutor chefe da Orquestra Filarmônica de Munique, na Alemanha, nessa terça-feira, 1, por se recusar a condenar a invasão da Rússia à Ucrânia. O prefeito de Munique, Dieter Reiter, anunciou a demissão em um comunicado à imprensa local, e se justificou dizendo que rescindir o contrato com Gergiev era a única opção disponível.
A demissão é o golpe definitivo na derrocada de Gergiev, que vem sendo limado de suas funções na última semana como uma resposta ao seu apoio a Putin. Apesar de não ter se pronunciado em relação à invasão, o artista vinha apoiando os movimentos anteriores de Putin contra a Ucrânia, foi um defensor empenhado de sua reeleição e maestro responsável pelo encerramento do evento de comemoração dos 15 anos de governo Putin, em 2014.
O boicote começou na semana passada, quando o Carnegie Hall, em Nova York, e a Filarmônica de Viena o dispensaram de uma série de apresentações. Já nessa segunda-feira, o Festival de Verbier, na Suíça, afastou Gergiev do cargo de diretor musical, e proibiu a apresentação de qualquer artista que demonstre apoio às ações de Putin. No mesmo dia, o Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia, onde Gergiev era presidente honorário, disse que o maestro renunciou do cargo a pedido da organização. A Filarmônica de Paris também cancelou dois concertos que aconteceriam em abril com Gergiev e o Festival de Lucerna, na Suíça, suspendeu apresentações marcadas para agosto.
Pouco depois da demissão em Munique, um porta-voz da Filarmônica em Hamburgo, na Alemanha, também cancelou os futuros compromissos de Gergiev. Segundo o The New York Times, várias outras instituições estão considerando movimentos semelhantes, incluindo a Orquestra de Roterdã e o Teatro Alla Scala, em Milão.
Conhecido como o maior maestro russo em atividade, e um dos mais famosos do mundo, Gergiev, de 68 anos, é um apoiador fiel de Vladimir Putin: os dois se conheceram no início dos anos 1990, quando Putin era oficial em São Petersburgo e Gergiev estava começando seu mandato a frente do Teatro Mariinsky. O presidente russo, inclusive, desempenhou um papel importante no sucesso de Gergiev, fornecendo financiamento para o Mariinsky.
Diante do cancelamento em massa dos compromissos do músico, seu representante, Marcus Felsner, disse em um comunicado que se tornou impossível defender Gergiev, a quem ele descreveu como “um dos maiores maestros de todos os tempos” e “um artista visionário que não quer, ou não pode encerrar seu apoio há muito expresso a um regime criminoso”.