No fim dos anos 1970, o Vaticano deu início a uma das mais preocupantes restaurações em seu território: a recuperação da Capela Sistina, em especial os afrescos de Michelangelo — tanto o teto, pintado entre 1508 e 1512, quanto o Juízo Final, feito posteriormente na parede do altar. Sob tensão, o mundo das artes voltou os olhos para o templo católico construído no século XV sob os auspícios do papa Sisto IV, de quem advém o nome. A preocupação era legítima: e se os restauradores causassem danos irreversíveis a uma das maiores joias do Renascimento? O processo começou em 1980 e só terminaria catorze anos depois. Foram removidas sujeira e fuligem acumuladas por séculos. Durante os trabalhos, os técnicos ficaram sob o escrutínio de especialistas em arte. A maior preocupação era a eventual remoção dos retoques de tinta seca que Michelangelo teria feito depois da obra terminada, já que pinceladas assim não resistem nem mesmo à água. O restauro, felizmente, foi concluído com as bênçãos dos críticos — para sorte da humanidade.
Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715