Aldir Blanc, que compôs ao lado de João Bosco a música O Bêbado e a Equilibrista, morreu aos 73 anos na madrugada desta segunda-feira, 4, no Rio de Janeiro, em decorrência de complicações do novo coronavírus. A notícia foi confirmada pelo Hospital Pedro Ernesto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O velório e o enterro serão rápidos e não serão abertos ao público por conta das medidas de distanciamento social.
O artista foi levado no dia 10 de abril ao hospital Miguel Couto com infecção urinária e pneumonia. Seu quadro de saúde piorou no dia 15 e ele precisou ser internado na UTI. Desde o dia 20, ele estava internado na terapia intensiva do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, onde seu quadro havia se estabilizado. Sem plano de saúde, a família do compositor chegou a criar uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para transferi-lo para um hospital particular. O quadro do artista piorou e ele precisou entrar no oxigênio, mas não reagia. A esposa de Blanc, Mari, também foi diagnosticada com a doença e está internada na Casa de Saúde São João de Deus, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. O estado de saúde dela, no entanto, não é grave.
ASSINE VEJA
Clique e AssineAldir Blanc é um dos grandes compositores da MPB, autor de cerca de 500 canções, entre elas clássicos como O Mestre-sala dos Mares, De Frente Pro Crime, Dois Pra Lá, Dois Pra Cá (escritas em parceria com João Bosco) e Resposta ao Tempo (com Cristóvão Bastos). Ouça cinco músicas essenciais para apreciar Aldir Blanc.
Na voz de Elis Regina, O Bêbado e a Equilibrista, gravado no LP Essa Mulher, de 1979, se tornou um hino informal sobre o declínio da ditadura militar no país, com versos em referência às esposas de dois opositores mortos pela repressão – Maria, de Manuel Fiel Filho, e Clarisse Herzog, de Vladimir Herzog. Outro trecho emblemático da canção dizia que o Brasil sonhava com a volta do irmão do Henfil, sobre Herbert José de Souza, o Betinho, exilado de 1971 a 1979.
João Marcelo Bôscoli, filho de Elis Regina, relembrou da parceria de Blanc com sua mãe. “Ele foi um dos compositores que ela mais gravou. Ele era um compositor recluso, mas era muito agradável. Ele me ligava uma vez por ano para conversar. Para mim, ele é um dos dez maiores letristas da música brasileira. A poesia dele é refinadíssima, sublime e pontuada por uma coisa inesperada, um palavrão. Ele era um cronista do dia a dia e trabalhava com coisas surreais, como o ‘bêbado trajando luto’ e a ‘tarde que cai feito um viaduto’. Do ponto de vista poético é lindo. A gente fica um pouca menor”.
Sua obra foi gravada em samba, choro, valsa, baião, bolero, fox e frevo por artistas como Clara Nunes, Chico Buarque, Elizeth Cardoso, Djavan, Ivan Lins, Paulinho da Viola, Edu Lobo e Nana Caymmi, entre tantos outros. Suas letras falavam sobre situações de seu cotidiano e sua vida. Ele uniu com maestria elementos como o humor e a dor de cotovelo, a realidade e a imaginação.
Nascido no bairro do Estácio em 2 de setembro de 1946, o cantor morava na Muda, na Tijuca, no Rio de Janeiro, onde vivia em reclusão. Em 1991 sofreu um acidente grave de carro que deixou sua perna esquerda quase sem movimento. Em 2010, descobriu que tinha diabetes tipo 2 e sofria de pressão alta e parou de consumir álcool.
Antes de seguir carreira na música, Blanc formou-se em medicina. A música, no entanto, falou mais alto e ele passou a dedicar-se às composições. Amante do Carnaval, era salgueirense e frequentava blocos como Simpatia É Quase Amor, ao qual batizou, e Nem Muda Nem Sai de Cima. Apaixonado por futebol, sua outra paixão era o time Vasco da Gama.
Aldir deixa a esposa Mari Lucia, quatro filhas, cinco netos e um bisneto. Do primeiro casamento vieram Mariana e Isabel e, do segundo, com Mari Lucia, nasceram Tatiana e Patrícia.
Ouça João Bosco interpretando O Bêbado e a Equilibrista:
No Twitter, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, divulgou uma nota de pesar em que aponta Aldir como “um dos maiores letristas brasileiros”.
As deputadas federais Jandira Feghali e Maria do Rosário, e a ex-parlamentar Manuela D’ávila foram as primeiras a postar notas de pesar. Ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes também publicou suas condolências.