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As razões que levaram Matthew Perry a narrar seu calvário com os vícios

Em livro de memórias, o ator de 'Friends' alfineta o modo como Hollywood lida com astros dependentes químicos

Por Amanda Capuano Atualizado em 4 jun 2024, 11h15 - Publicado em 19 nov 2022, 08h00
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  • Em uma noite de 2018, a família de Matthew Perry aguardava na sala de espera do hospital quando um médico afirmou que o ator, conhecido mundialmente pelo papel de Chan­dler, na série Friends, dificilmente sobreviveria até o dia seguinte: a estimativa exata dada pelo profissional era de apenas 2% de chance. Internado com fortes dores abdominais, Perry enfrentou sete horas de cirurgia para reverter um cólon rompido por uso excessivo de opioides. Contrariando as expectativas, ele resistiu àquela noite — e também a duas semanas em coma, cinco meses internado e outros nove com uma bolsa de colostomia. A experiência levou Perry, hoje com 53 anos, a contar em detalhes o calvário que viveu no livro Friends, Lovers and The Big Terrible Thing (Amigos, amantes e o negócio terrível, em tradução livre), recém-lançado nos Estados Unidos e sem edição no Brasil.

    Friends, Lovers, and the Big Terrible Thing: A Memoir

    Meses depois de ficar cara a cara com a morte, o ator passou a registrar suas memórias no bloco de notas do celular. Embora polvilhado com pitadas de seu humor habitual, o resultado é um relato duro sobre a vida de um dependente químico. É também uma denúncia sobre a perigosa cultura que Hollywood tem de fazer vista grossa para o vício de seus astros mais lucrativos. John Bennett Perry, pai de Matthew e também ator, entornava no mínimo seis doses de vodca com tônica por dia. O astro de Friends descreve o pai, antes da sobriedade, como um “bebedor funcional”, já que não perdia seus compromissos. Outros exemplos são conhecidos da indústria. Samuel L. Jackson revelou que, até ficar sóbrio, em 1991, nunca havia atuado sem estar sob efeito de alguma substância. Até o jovem Daniel Radcliffe enfrentou o alcoolismo na adolescência ao mesmo tempo que rodava Harry Potter. Perry, por sua vez, relata que chegou a apagar no set do filme A Serviço de Sara (2002) por causa do abuso de drogas e álcool. “Ninguém ousava criticar meu comportamento. Queriam meu nome no pôster para lucrar 60 milhões de dólares”, escreveu. Em Friends a situação era pior. Ele estava em uma de suas muitas internações para tratar o vício quando foi gravada a cena icônica do casamento entre Monica (vivida por Courteney Cox) e Chandler: o ator foi levado ao set por um enfermeiro da clínica — para onde voltou após as filmagens. “Não queriam mexer com aquela máquina de dinheiro”, disse ele, que chegou a receber 1 milhão de dólares por episódio pela série.

    ALTOS E BAIXOS - Matthew Perry ao lado dos colegas: o ator chegou a sair de clínicas de reabilitação para gravar Friends -
    ALTOS E BAIXOS - Matthew Perry ao lado dos colegas: o ator chegou a sair de clínicas de reabilitação para gravar Friends – (NBCU Photo Bank/NBCUniversal/Getty Images)

    Quebra-Cabeça Friends 1000 peças

    Embora a fama tenha potencializado o abuso de substâncias químicas, o dilema do ator começou bem antes. Seu primeiro contato com remédios fortes foi ainda nos primeiros meses de vida, quando um médico prescreveu barbitúricos para acalmá-lo. A bebedeira começou aos 14 anos, quando morava no Canadá com a mãe. Em apenas quinze minutos, acabou com uma caixa de cerveja e uma garrafa de vinho com outros dois amigos. A situação piorou no ano seguinte, aos 15, quando foi morar com o pai em Los Angeles. Ali, ele percebeu que o álcool era uma forma de aplacar o sentimento de abandono cultivado na infância pela separação dos pais.

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    Dependência Química: Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas

    O quadro se agravou tanto que, aos 49, Perry já havia passado mais da metade da vida em centros de reabilitação: ele soma 65 processos de desintoxicação e um gasto de 9 milhões de dólares. “No dicionário, deveria ter uma foto minha ao lado da palavra ‘viciado’ ’’, conta. Perry credita sua sobrevivência à aversão por he­roí­na, que nunca experimentou por medo. A bagagem vasta e trágica com o vício despertou nele o desejo de ajudar outros dependentes químicos — e o livro faz parte da missão. Perry quer aproveitar ao máximo a nova fase. O fato de ter completado dezoito meses sóbrio é uma prova de que está vencendo a batalha contra o vício.

    Publicado em VEJA de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816

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