O incêndio que destruiu parte do acervo da Cinemateca Brasileira na Zona Oeste de São Paulo tem sido motivo de revolta não só para os brasileiros, mas também para instituições internacionais. A Associação de Cinematecas Europeias publicou nesta terça-feira, 3, uma nota de repúdio denunciando o descaso do governo federal para com a tragédia. O texto é assinado por representantes de instituições culturais de Portugal, Holanda, República Checa, Dinamarca, Itália, Alemanha, Finlândia, Bélgica e Sérvia.
No comunicado, a Associação presta apoio aos funcionários da Cinemateca e faz questão de lembrar que eles não devem, em hipótese alguma, ser responsabilizados pelo desastre. “O governo federal tem tratado a Cinemateca com tanto desprezo que em 2020 a instituição morreu de fome: fundos congelados, funcionários não pagos e demitidos, atividades paralisadas — inclusive a conservação do acervo. O governo assumiu a administração da Cinemateca sem ninguém encarregado dessas responsabilidades fundamentais”, diz a nota.
Relembrando ser o quinto incêndio de uma instituição cultural no Brasil ao longo dos últimos anos, o texto também cobra ações imediatas das autoridades responsáveis. Durante o período de crise, não faltaram protestos dos funcionários contra a situação deplorável da Cinemateca e alertas sobre os riscos de incêndio no local. “Agora é a hora de todos nós falarmos mais alto por eles e por sua missão – pois ela também é nossa. E é hora de olhar com atenção para qualquer outra situação em qualquer outro país onde as autoridades também tratem suas instituições culturais e patrimoniais com tamanha indignidade vergonhosa.”
Outras instituições também já se posicionaram sobre o caso. Na sexta-feira, 30, a Federação Internacional de Arquivos de Filmes (Fiaf, em inglês), que tem a Cinemateca como parte de sua rede, disse que a tragédia foi uma grande perda para o cinema mundial. No mesmo dia, o Instituto Lumière destacou os vários alertas que já haviam sido feitos pelo Ministério Público sobre risco de incêndio. O Conselho da Associação de Arquivistas de Imagens em Movimento também reforçou as tentativas incansáveis dos funcionários demitidos em defender o patrimônio cultural do país. O Festival Locarno, da Suíça, também emitiu uma nota exigindo medidas concretas sobre o destino da Cinemateca.