Barco de tragédia com 800 mortos será exibido na Bienal de Veneza
Embarcação carregava centenas de imigrantes e naufragou em 2015, no Mediterrâneo; iniciativa é do artista suíço-islandês Christoph Büchel
Um barco pesqueiro que naufragou em abril de 2015 no Mar Mediterrâneo, em uma tragédia que matou mais de 800 imigrantes, será exibido na Bienal de Arte de Veneza, que tem início no próximo sábado 11. A carcaça da embarcação foi recuperada do fundo do mar em junho de 2016 e estará na mostra como uma instalação artística, em uma iniciativa do suíço-islandês Christoph Büchel.
O navio pesqueiro afundou no dia 18 de abril, entre a Líbia e a ilha de Lampedusa, na Itália, depois de colidir com uma embarcação que tinha sido chamada para resgatá-lo. Apenas 28 pessoas sobreviveram, enquanto o restante (cujo número exato não é conhecido) ficou preso nas ferragens e se afogou. As vítimas eram de diversas nacionalidades. O capitão do barco acabou condenado a dezoito anos de prisão por tráfico humano e pelas mortes.
Segundo o informativo da 58ª edição da Bienal de Veneza enviado à imprensa, a instalação, que ficará exposta no complexo conhecido como Arsenale – um antigo estaleiro onde se construíam as embarcações da cidade -, será chamada de Barca Nostra (“Nosso barco”) e representa “uma relíquia da tragédia humana, mas também um monumento à migração contemporânea, que envolve fronteiras reais e simbólicas e a (im)possibilidade de movimentação de informação e pessoas”. A intenção do artista, ainda segundo a nota, é chamar atenção para a responsabilidade dos países europeus diante das centenas de refugiados que morrem no mar todos os anos.
Esta não é a primeira vez que Christoph Büchel usa sua arte de forma política e provocadora. Na Bienal de Veneza de 2015, ele transformou o interior de uma igreja católica abandonada numa mesquita, que funcionou tanto como obra em exposição quanto como espaço religioso. Já em 2018, ele lançou uma petição online para reconhecer oito protótipos do muro proposto por Donald Trump entre os Estados Unidos e o México como obras de arte a serem tombadas e preservadas.