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Beyoncé vai do afrofuturismo à Bíblia em ‘Black is King’; veja referências

Novo álbum-visual da cantora transita por elementos da cultura africana com pano de fundo shakespeariano

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 ago 2020, 15h04 - Publicado em 5 ago 2020, 13h00

A pequena participação de Beyoncé como dubladora da personagem Nala no filme O Rei Leão, em 2019, tem ganhado dimensões cada vez maiores e mais complexas. Até então coadjuvante do sucesso da Disney, Beyoncé tomou para si o protagonismo quando encabeçou no ano passado o disco The Lion King: The Gift, uma trilha-sonora paralela do filme, que exaltava a cultura africana e a população negra. O manifesto ganhou um baita reforço na sexta-feira passada, 31, quando chegou à plataforma americana Disney+ o álbum-visual Black Is King. Amparada por uma gama de referências, a cantora provocou burburinho pelo mundo, com a mesma medida de críticos e admiradores, todos palpitando sobre a ousadia de seu novo trabalho, que transforma O Rei Leão em uma nova e instigante narrativa. Abaixo, equipe de VEJA listou seis referências que são base do álbum – ainda sem previsão de lançamento oficial no Brasil.

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Hamlet

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Cena de ‘Black is King’, de Beyoncé: jovem em busca de suas raízes (//Reprodução)
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Na peça trágica escrita por William Shakespeare, entre 1599 e 1601, o príncipe Hamlet, na Dinamarca, decide vingar a morte do pai, assassinado pelo irmão que tomou o trono para si. A trama clássica serviu de base para a história de O Rei Leão. No álbum, Beyoncé reconta a história, porém com um menino negro como o protagonista Simba. Na jornada de amadurecimento, ele busca se reconectar com suas raízes africanas, seu berço original. A trajetória traz a mensagem de que o povo africano escravizado e arrancado de sua terra, descende, originalmente, de reis e rainhas.

Afrofuturismo

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Beyoncé em ‘Black Is King’: visuais metálicos remetem ao futuro de prosperidade e inclusão do povo negro, visão parte do afrofuturismo (//Divulgação)
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A onda da ficção científica que tomou a literatura e o cinema americanos, nos anos 1960 e 70, era basicamente representada por personagens brancos. Em contraposição, surgiu um movimento estético, cultural e social, mais tarde batizado de afrofuturismo, que inseriu o negro na visão de futuro – um posicionamento que vai além do entretenimento, mas também fala sobre sobrevivência e resistência. Recentemente, o filme Pantera Negra (2018) se tornou um expoente moderno do afrofuturismo, ao misturar a estética tecnológica aos elementos da cultura africana. Beyoncé explora em Black Is King o movimento com o uso abundante de cores metálicas, visuais e coreografias robóticas e batidas eletrônicas misturadas à cores, figurinos e danças de culturas tribais africanas.

Matriarcado

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Beyoncé ao lado da filha, Blue Ivy, em Black Is King’: exaltação da beleza negra (//Divulgação)
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O empoderamento feminino ganha contornos ainda mais profundos em Black Is King. Com mulheres como protagonistas, Beyoncé defende uma estrutura matriarcal, parte de culturas africanas e corrompida quando estas famílias foram trazidas a força para a América como escravos. Beyoncé canta sobre o poder da mulher representada no filme por guerreiras na canção My Power, e exalta a beleza negra em Brown Skin Girl, que tem a participação da filha da cantora, Blue Ivy, da amiga e ex-Destiny’s Child, Kelly Rowland, de sua mãe, Tina Knowles-Lawson, além da modelo Naomi Campbell e da atriz Lupita Nyong’o.


Moisés bíblico

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Beyoncé no álbum-visual ‘Black Is King’: bebê representa o libertador bíblico Moisés (//Divulgação)

Em uma das cenas, Beyoncé, emocionada, coloca um bebê enrolado em um cobertor em uma cesta no rio, acompanhada pela faixa Otherside. A referência é clara: Moisés, proeminente personagem bíblico do Antigo Testamento, é salvo pela mãe de um genocídio de meninos ao ser colocado no rio Nilo. Em seguida, ele é encontrado pela princesa do Egito, que o cria como filho. Moisés é uma figura que representa a liberdade: ele foi o responsável por tirar hebreus da escravidão. Para a população negra, o personagem tem a mesma conotação. A ex-escrava e abolicionista Harriet Tubman, apelidada de Moisés, cantava a música cristã Go Down, Moses (vertida no Brasil como Vai, Moisés e o repetitivo refrão “deixa meu povo ir”) como um código para que os escravos fugitivos a reconhecessem como aliada.

Oxum

Beyoncé, durante sua apresentação no 59ª Grammy Awards em Los Angeles, Califórnia
Beyoncé, durante sua apresentação no 59ª Grammy Awards em Los Angeles, Califórnia (Kevork Djasezian/Getty Images)

As religiões africanas também estão presentes no filme. Para os brasileiros, a proximidade ainda é maior, já que, por aqui, as religiões de matrizes africanas são bastante populares quando comparadas à cultura americana. A deusa Oxum, considerada a senhora da beleza, da fertilidade, do dinheiro e da sensibilidade, é exaltada por Beyoncé em pequenos detalhes, desde cenas na água (a entidade reina em águas doces) até em figurinos, como o usado por ela no vídeo de Spirit, lançado no ano passado, e incorporado neste novo álbum. Em 2017, Beyoncé  havia feito referência à Oxum na apresentação do Grammy, onde se vestiu de dourado com uma coroa na cabeça, roupa que remetia diretamente à divindade.

Black Lives Matter

Black Is King já estava em pós-produção quando o movimento Black Lives Matter ganhou nova força nos Estados Unidos, este ano, após o assassinato de George Floyd por um policial. A canção Black Parede, lançada no dia 19 de junho, o Juneteenth, quando os americanos celebram a emancipação dos escravos, foi abraçada como hino pelo movimento. A faixa entrou no álbum-visual. Nas cenas, a artista apresenta a bandeira dos Estados Unidos em vermelho, preto e verde, cores que simbolizam o pan-africanismo — movimento que busca a união dos diversos povos do continente africano.

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