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Capítulo didático e inverossímil transforma novela em ‘Scooby-Doo’

Atuação de Sandra Corveloni como a mãe que se dá conta da maldade que marido fez à filha foi ponto alto de julgamento que terminou com vilão assumindo tudo

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 fev 2018, 08h55 - Publicado em 21 fev 2018, 11h14
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  • Foi forte o início do capítulo desta terça-feira de O Outro Lado do Paraíso, com a conclusão do julgamento de Vinícius (Flavio Tolezani), que culminou na condenação do delegado por pedofilia. No episódio de segunda, ele parecia ter o jogo a seu favor. Apesar do depoimento comovente de Laura (Bella Piero), a sua maior vítima, era a palavra de um contra a do outro. Mas o super-herói Patrick (Thiago Fragoso), advogado da garota, apresentou testemunhas que mudaram o rumo do julgamento: a mãe de uma outra vítima e a empregada da família, que chegou a ver o patrão abusar da enteada e se calou por medo. Os depoimentos levaram a cega Lorena (Sandra Corveloni) a se dar conta da maldade do marido, em uma cena que mostrou que a atriz é uma das melhores da novela de Walcyr Carrasco. A força do capítulo, porém, desmoronou em seguida, quando Vinícius, convencido de que estava liquidado, embora as testemunhas por si mesmas não representassem qualquer prova confiável, decidiu contar tudo com a franqueza de um vilão de Scooby-Doo.

    Quem já viu o desenho do cachorro comilão sabe: há sempre um mistério a ser investigado e, quando Velma e Fred encontram o bandido, ele tira a máscara e se põe a explicar calmamente todo o seu plano, com um didatismo que faz algum sentido em se tratando do público infantil. Inverossímil – para não dizer bobo – é ver um vilão de novela das 9 da Globo se comportar dessa maneira. Mesmo que o assunto seja sério, e é muitíssimo, não havia necessidade de tratá-lo desta forma.

    Pois foi exatamente o que fez Vinícius. Ele se sentou na cadeirinha dos depoentes e deu início à sua preleção. “Eu sei que eu tô acabado”, disse, antes de se dirigir à mulher, Lorena, em uma sequência que teve até uma risada maléfica de bruxa. “Como é que eu aguentei, ridícula? Eu, muito mais novo que você, casei, mas eu morria de rir por dentro quando se gabava com as amigas que tinha me conquistado, ah-ah-ah-ah. Eu, muito mais bonito, muito mais interessante que você. Eu casei, mas não com interesse em você, Lorena, cafona, mal vestida, cabelo tingido, você é ridícula, eu casei por sua filha.”

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    Ouvem-se gritos de “monstro” de Lorena, e Vinícius retoma, com a mesma frieza de antes. “Desde que vi a Laura pela primeira vez, eu fiquei transtornado. Absolutamente transtornado. Não me importava a idade. Aliás, até a minha mulher parar de trabalhar eu tive o que eu quis”, disse o delegado pedófilo, numa confissão inacreditável que gerou rumor na sala do tribunal.

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    Três grandes atrizes em cena: Marieta Severo (a vilã Sophia), Sandra Corveloni (a sonsa Lorena) e Eliane Giardini (a racista Nádia) (Divulgação/TV Globo)

    “Ela morria de medo de mim. Morria de medo. Depois, ela já estava grandinha, podia abrir a boca, eu tive de parar. Eu tive que tentar conhecer outras, e conheci. Eu me aproveitei de que era delegado. Morriam de medo de mim, eu podia fazer tudo”, continuou, já colocando sua profissão no passado, numa consciência também inverossímil para o momento.

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    Outra cena didática e improvável do capítulo desta terça foi a chegada de Vinícius à prisão. Ali, ele fica sabendo – e como podia não saber, se era delegado? – que existe um “código não escrito” na cadeia e que “molestadores, estupradores” não “vivem muito” em um lugar como aquele porque “provocam o ódio” dos outros prisioneiros.

    Vinícius vai morrer na prisão. Um final, esse sim, justificável para um criminoso como ele. Espera-se apenas que aconteça sem legendas.

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    Laura (Bella Piero): a fragilidade da vítima de um crime horrendo (Divulgação/TV Globo)
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