Criticada, novela abandona a amamentação cruzada e até dá aula
Médico Samuel, pai de recém-nascida na trama, explica que a melhor solução para mães que têm leite sobrando é doar para um banco de leite
Atacada por pediatras e especialistas em aleitamento materno por incentivar a amamentação cruzada – quando uma mãe amamenta o bebê de outra a quem falta leite –, a novela O Outro Lado do Paraíso recuou. No capítulo desta quarta-feira, os personagens Samuel (Eriberto Leão) e Suzy (Ellen Roche), pais de uma menina recém-nascida, contam à avó paterna, Adnéia (Ana Lúcia Torre), que abandonaram a prática, por abrir brechas para a transmissão de doenças, e, em uma verdadeira aula sobre o que se deve fazer nesses casos, explicam que o melhor, quando há leite materno de sobra, é doar para um banco de leite.
Na cena desta quarta, a “tigrinha”, como é chamada a bebê recém-nascida por Samuel e Suzy, é posta para arrotar quando a avó se aproxima e a elogia pela dieta. “Mama que… benza Deus!”, diz Adnéia, que pergunta à nora se em seguida ela vai dar leite ao neto de Nádia (Eliane Giardini). “Eu cheguei a amamentar o Marquinhos uns dias, mas conversei com o Samuel e a gente achou melhor fazer do jeito certo”, diz Suzy.
Quando Adnéia quer saber do que se trata “o jeito certo”, arma o púlpito para que Samuel e Suzy deem uma pequena aula sobre aleitamento, com direito a mea culpa. “Pela generosidade, eu acabei me equivocando. A família da Nádia é tão próxima da nossa que eu acabei oferecendo o leite da Suzy”, se justificou o médico, atravessado pela ex e possível futura esposa, que é enfermeira por formação. “Só que o correto é doar para um banco de leite”, diz Suzy. “Na minha época, não tinha nada disso”, se admira Adnéia.
É mais uma deixa para Samuel, que então explica que, através do banco de leite, é possível analisar o material doado “e assim evitar doenças”. “É bem mais seguro para os bebês”, arremata Suzy, que agora doará leite para Marquinhos por meio do banco de leite da cidade. “Assim, o gesto de generosidade do meu filho continua valendo”, baba-se Adnéia.
Entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), além de profissionais de saúde e grupos de apoio ao aleitamento, criticaram a prática da amamentação cruzada na novela de Walcyr Carrasco em notas de esclarecimento e posts em redes sociais. Em entrevista a VEJA, Elsa Giugliani, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, disse o mesmo que os personagens da novela nesta quarta. “A amamentação cruzada acontecia muito e ainda acontece entre comadres, vizinhas e parentes. Com a propagação da aids e a descoberta de que a doença é transmitida pelo leite materno, as orientações mudaram. Pode parecer um ato de amor e solidariedade, mas é perigoso e não é recomendado.”