Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Black Friday: 4 Revistas pelo preço de uma!

Da periferia para o mundo: como Flávio Cerqueira se tornou fenômeno da escultura

Ao combinar beleza e crítica social em esculturas de bronze, artista se consolida como um dos criadores mais relevantes e populares do Brasil

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 nov 2025, 08h00

Na década de 1990, ainda adolescente, Flávio Cerqueira se encantou por pequenas esculturas de massa epóxi vendidas por ambulantes nas ruas de São Paulo. Com o artesanato em mente, foi estudar artes plásticas na Faculdade Paulista de Artes — isso sem nunca ter colocado os pés em um museu. “Sou de uma família operária. Para os meus pais, isso era coisa de rico, não estava ao nosso alcance”, conta ele, hoje um renomado artista de 42 anos. Cerqueira foi criado na periferia de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, bem longe dos melhores museus. Foi só durante a graduação que visitou uma exposição pela primeira vez, na Pinacoteca de São Paulo. Lá, deu de cara com a obra irretocável do mestre francês Auguste Rodin (1840-1917). “Naquele momento eu comecei a me interessar por esculturas em bronze”, conta, relembrando a inspiração que deu início à sua trajetória. Em uma carreira de quinze anos, firmou-se como um dos maiores nomes do meio.

Artista popular e respeitado da escultura contemporânea brasileira, Cerqueira está em cartaz até janeiro no CCBB do Rio de Janeiro, com a retrospectiva de sua obra, Um Escultor de Significados. A exposição, que reúne quarenta peças de seu portfólio, está perto de completar um ano de estrada — antes ela passou por São Paulo, Brasília e Belo Horizonte —, somando um público de 275 000 pessoas. Para além da retrospectiva, Cerqueira há tempos é figura presente em acervos fixos de grandes museus, como o Masp, o Inhotim e a Pinacoteca — seu berço inicial —, e conta com a aprovação de instituições importantes no mundo, com exibições de seu trabalho nos Estados Unidos, na África do Sul e em países europeus como a Itália.

Com olhos atentos para a realidade e uma vivência periférica indissociável, Cerqueira grava no bronze questões que permeiam a vida da população brasileira. Mazelas sociais como o racismo, por exemplo, pautam diversas peças, entre elas a impactante Amnésia, em que um garoto joga tinta branca no próprio corpo. A pobreza, a violência e as questões de gênero são outros temas recorrentes, mas há também aspectos emocionais sensíveis. “Me considero um cronista. Uso a escultura para trazer narrativas do meu tempo e a história dos brasileiros”, define ele, destacando o teor afetivo das peças que falam, sobretudo, de “memórias e ausências”.

Estudioso e com um doutorado em andamento, Cerqueira construiu sua identidade a partir de uma miscelânea de referências. De Rodin ao suíço Alberto Giacometti (1901-1966) e o espanhol Juan Muñoz (1953-2001), ele bebe também do convívio com colegas contemporâneos, entre eles a esposa e artista Kátia Fiera: “A gente tem muita troca. Todo dia falamos sobre nossos trabalhos”. Atribuindo à arte tudo o que tem hoje, o escultor conta que o caminho não foi fácil.

POTÊNCIA - Social e afetivo: retrospectiva com quarenta peças já foi vista por mais de 275 000 pessoas
POTÊNCIA - Social e afetivo: retrospectiva com quarenta peças já foi vista por mais de 275 000 pessoas (@flavinhocerqueira/Instagram; Carla Fialdni; @flavinhocerqueira/Instagram; @flavinhocerqueira/Instagram)
Continua após a publicidade

Aos 11 anos, ficou órfão de pai. A mãe, empregada doméstica, segurava as pontas em casa, mas a dificuldade financeira sempre foi grande: para se formar, trabalhou como vendedor em uma loja de materiais elétricos no Brás, centro de São Paulo. Saía de casa antes de o sol nascer e voltava de madrugada, garantindo o sustento familiar e os estudos. “Não sei como consegui”, reflete, falando de sua origem, sem romantizar o sofrimento. “Eu quero mostrar que existem possibilidades para quem vive na periferia. A arte não é para poucos, ela é para todo mundo”, afirma.

Hoje sua mãe o acompanha em exposições pelo mundo, e ele se alegra ao ver que familiares e colegas de infância passaram a se interessar por artes plásticas e a visitar museus por causa dele: “Eu fui o primeiro artista da minha casa, da minha rua, do meu bairro. Meus vizinhos não sabiam o que era arte contemporânea até eu falar sobre isso com eles na mesa do bar”.

A ambição, no entanto, não para por aí. A carreira bem-sucedida ainda tem espaço para crescimento. “Quero ser considerado um grande nome da escultura brasileira. Não tenho vergonha de dizer que estou trabalhando para isso”, diz. Cerqueira reforça que a grandeza citada não está exatamente atrelada ao valor de suas peças — que já chegaram a valer 80 000 reais — mas, sim, à capacidade de se tornar uma referência no meio para “fomentar o desejo de fazer arte”. É um caminho justo e adequado para a potência de sua poesia sólida.

Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA CONTEÚDO LIBERADO

Digital Completo

A notícia em tempo real na palma da sua mão!
Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
ECONOMIZE ATÉ 47% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 7,50)
De: R$ 55,90/mês
A partir de R$ 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.