Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Despedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James Bond

Em '007 — Sem Tempo para Morrer', ator e se livra de vez do passado machista e bruto do personagem, dando ao espião uma nova chance no século XXI

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h40 - Publicado em 1 out 2021, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O agente secreto James Bond padece de duas fraquezas notórias: mulheres e bebida — de preferência, um bom dry martini. Valendo-se de ambas, uma beldade flerta com o bonitão em uma casa noturna na Jamaica. Pouco depois, está na casa dele perguntando onde fica o quarto. O que viria a ser uma cena quente típica dos filmes do 007 se revela uma pegadinha: a tal beldade é Nomi (Lashana Lynch), nova agente do MI6, a inteligência secreta britânica — antigo emprego de um Bond agora aposentado. A presença feminina fulgurante de Nomi, que o encara de igual para igual, provoca choque: o 007 do século XXI está acostumado a mulheres fortes, mas não tão equiparáveis a ele. “O mundo mudou desde que você se aposentou”, diz a moça, irônica. Na visão do veterano, porém, o mundo não mudou sua essência: sempre existirão vilões megalomaníacos, armas de destruição em massa e civis indefesos em perigo. Para ele, a natureza humana é previsível, mas o mesmo não pode ser dito das adaptações e surpresas pelas quais passa para continuar lutando contra esses males em 007 — Sem Tempo para Viver (No Time to Die, Reino Unido/Estados Unidos, 2021), novo filme da franquia e último com Daniel Craig no alinhado terno do herói inglês, já em cartaz nos cinemas.

    Baralho James Bond 007

    Aos 53 anos, Craig marca sua despedida como o mais longevo ator no papel — foram dezesseis anos — e responsável por injetar energia no personagem, dando a ele camadas emotivas em uma realidade desiludida no pós-11 de Setembro. Nesse mundo de constante desconfiança no próximo e nas instituições, mudanças impensáveis nos tempos dos antecessores de Craig o empurraram, inevitavelmente, para o clima do século XXI. O ator corporificou o Bond da sociedade globalizada e hiperconectada, com tecnologias em constante evolução — e, mais recentemente, imerso no mundo da nova onda feminista e do movimento #MeToo.

    Da Rússia, com amor

    E como essas mudanças fazem diferença. Na década de 60, o 007 de Sean Connery (1930-2020), primeiro a assumir o papel, não via problemas em agarrar à força uma mulher que negava suas investidas. Também não se importava com diplomacia ao escorraçar a União Soviética na Guerra Fria. A urgência da atualização ficou evidente nos anos 90, quando Pierce Brosnan entregou bilheterias aquém do esperado. Em um mea-culpa, a chefona M (vivida por Judi Dench) o chamou na época de “machista e dinossauro misógino”.

    FORÇA CUBANA - Ana de Armas, com Craig: poderosa, mas sempre sensual -
    FORÇA CUBANA - Ana de Armas, com Craig: poderosa, mas sempre sensual – (Universal Pictures/.)

    Essa descrição irretocável tem origem, vale lembrar, na pena de Ian Fleming (1908-1964), criador do personagem nos anos 50. Estereótipo da masculinidade, o agente — além de rematado cafajeste — dispunha de um “kit macho” com tecnologias avançadas, carrões, armas, valentia inabalável e ainda licença para matar em nome do governo britânico. Tal modelo ficou não só ultrapassado: já beirava o constrangimento. Era, sobretudo, um entrave que distanciava Bond de um novo público, especialmente jovens entregues aos super-heróis da Marvel. Ao mesmo tempo, porém, reinventá-lo muito radicalmente poderia afastar seu fã mais velho cativo. A estratégia de sobrevivência se revelou marota: mudar é preciso, mas só um pouquinho.

    Continua após a publicidade

    Viva e deixe morrer

    É uma mudança pelas bordas, digamos. “Personagens como a agente vivida por Lashana desafiam Bond, fazem com que ele se adapte”, explicou Craig a VEJA. Comparado aos demais, seu James Bond é o que mais bebe, mata e desobedece às autoridades. Ao mesmo tempo, é o que mais se livrou da virilidade tóxica: ele se apaixona perdidamente, chora sem pudores e sangra, literalmente, como poucos antes dele. “Daniel Craig deu outra dimensão ao personagem”, disse a empoderada Lashana a VEJA (leia abaixo).

    Cassino Royale

    Sem Tempo para Morrer entrega a despedida esperada, com uma dose extra de emoção e romance. Ao longo de quase três horas, o filme esbanja ação, mas há também diálogos existenciais entre o herói e um novo vilão desfigurado (Rami Malek). E, claro, locações exóticas e mulheres lindíssimas. As ex-bond girls (termo aposentado por seu cunho machista) agora têm força e poder — a cubana Ana de Armas luta e dispara fuzis sem amassar o vestido sensual. Mas o novo protótipo feminino que fica de legado da era Craig é mesmo a personagem durona de Lashana. A especulação de que o próximo 007 poderia ser uma mulher (e negra) encontra nela uma tentadora interrogação. A conferir. O bruto tem licença para mudar — mas daí a trocar de sexo seria uma revolução.

    “Gosto de imaginar uma 007 mulher”

    A atriz inglesa Lashana Lynch, 33 anos, fala a VEJA sobre sua personagem, uma agente secreta, e o futuro do espião.

    Continua após a publicidade
    ADEUS, BOND GIRL - Lashana: a primeira negra no papel de uma agente da franquia -
    ADEUS, BOND GIRL - Lashana: a primeira negra no papel de uma agente da franquia – (Universal Pictures/.)

    Como recebeu a notícia de que faria um filme do James Bond? Eu estava no teatro e, quando olhei o celular, havia dezenas de ligações perdidas. Pensei: aconteceu uma tragédia. Meus agentes me contaram a novidade. Quando caiu a ficha, notei quão maravilhoso é ser uma mulher negra e filha de jamaicanos em um papel dessa magnitude.

    Em que sentido? Meninos crescem se espelhando em heróis como 007. Na infância, não via ninguém parecida comigo nas telas. Eu me espelhei, então, em pessoas fortes do meu convívio, como a minha mãe — aliás, ela deixaria o Bond no chinelo (risos). Parte do filme se passa na Jamaica. Poder mostrar minha cultura numa franquia tão grande é uma bênção.

    Não era uma fã do espião? Só me interessei por ele com Daniel Craig, que deu outra dimensão ao personagem. Mas, quando eu era bebê, meu pai assistia aos filmes comigo no colo. Quem sabe eu decidi ali que faria um filme do 007?

    Quando fez o teste, sabia que era para uma agente 00? Não. Cheguei a pensar que eu poderia ser a nova M, pois li diálogos dela. Mas, quando fiz o teste físico, notei que não seria uma personagem de escritório. Eu me considero fitness, mas esse filme foi um desafio corporal inexplicável.

    Continua após a publicidade

    A possibilidade de uma mulher no papel de 007 tem causado alvoroço. O que acha? Acho saudável existir a conversa. Há trinta anos, a hipótese não seria cogitada. Gosto de imaginar uma 007 mulher — e olho essa possibilidade de camarote.

    Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2021, edição nº 2758

    CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

    Despedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James BondDespedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James Bond
    Baralho James Bond 007
    Continua após a publicidade
    Despedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James BondDespedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James Bond
    Da Rússia, com amor
    Despedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James BondDespedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James Bond
    Viva e deixe morrer
    Despedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James BondDespedida de Daniel Craig expõe desafio de reinventar James Bond
    Continua após a publicidade

    Cassino Royale

    logo-veja-amazon-loja

    *A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.