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Diretor do novo ‘007’ compara James Bond de Connery a estuprador

Cary Fukunaga cita cena em que o agente rouba beijo e força relação com chantagem em filmes dos anos 60

Por Amanda Capuano 23 set 2021, 15h23

Próximo da estreia de 007: Sem Tempo Para Morrer, o diretor Cary Fukunaga cutucou um vespeiro ao dizer que o James Bond de Sean Connery — queridinho dos fãs — era “basicamente” um estuprador. A declaração foi feita durante uma entrevista ao site The Hollywood Reporter publicada na quarta, 22, na qual Fukunaga cita filmes anteriores da saga. “É em Thunderball ou Goldfinger que, basicamente, o personagem de Sean Connery estupra uma mulher? Ela fica tipo ‘Não, não, não’ e ele, ‘sim, sim, sim’. Isso não funcionaria hoje”, aponta ele ao ser questionado sobre a misoginia da saga.

A cena em questão se desenrola em Thunderball (no Brasil, 007 contra a Chantagem Atômica), de 1965, em que Bond beija à força uma enfermeira que rejeita suas investidas. Em uma sequência posterior, ele sugere que manterá segredo sobre informações que poderiam custar a ela o próprio emprego, mas não de graça. “Meu silêncio pode ter um preço”, diz ele. A mulher, então, se afasta: “Você não quer dizer … ah, não”, antes de Bond responder “Ah, sim”, e empurrá-la para uma sauna enquanto tira suas roupas. Fukunaga tem toda a razão: a cena, felizmente, não pegaria bem nos dias de hoje.

007 Contra Goldfinger (1964) também tem sua cota de cenas problemática. Em uma passagem do filme, Bond força a barra para cima de Pussy Galore (Honor Blackman) em um celeiro. Segundo o The Guardian, uma carta de 1959 sobre o romance do qual o filme foi adaptado, o autor Ian Fleming explica que essa “imposição de mãos” do “homem certo” foi o necessário para “curar” a personagem lésbica de “sua doença psicopatológica”, insinuando um estupro corretivo.

Na Hollywood pós #MeToo, onde o assédio — ao menos em frente as câmeras — parece estar sendo levado mais a sério, ambas as cenas são condenáveis, não só hoje, naquela época também — apesar das ações do personagem serem vistas então como normais aos homens viris. Nesse cenário, Sem Tempo Para Morrer promete ser o filme de Bond com a maior paridade de poder entre personagens masculinos e femininos. Lashana Lynch — que interpreta uma das duas personagens principais – supostamente herda a designação 007 de Bond, que se aposentou na Jamaica no início do filme. O envolvimento de Phoebe Waller-Bridge no roteiro também é visto como uma forma de tratar com mais respeito, e protagonismo, as mulheres da saga, mas Fukunaga alega que o progressismo chegou antes dela.

“Acho que essa é a expectativa, uma mulher escrevendo papéis femininos muito fortes, mas isso é algo que Bárbara já queria”, aponta citando Barbara Broccoli, produtora da franquia desde 1995. “Desde as minhas primeiras conversas com ela, esse foi um impulso muito forte. Você não pode transformar Bond da noite para o dia em uma pessoa diferente. Mas pode mudar o mundo ao seu redor e a maneira como ele se comporta diante desse mundo. É uma história sobre um homem branco como um espião, mas você precisa estar disposto a ceder e trabalhar para que as personagens femininas sejam mais do que apenas artifícios”, finaliza.

Sem Tempo Para Morrer é o 25º filme da franquia de 007, e o último com Daniel Craig como protagonista. A trama acompanha um James Bond aposentado na Jamaica, retirado de seu descanso para resgatar um cientista sequestrado. O longa seria lançado originalmente no início de 2020, mas foi a primeira vítima da série de adiamentos forçados pela pandemia. Agora, chega aos cinemas no dia em 30 de setembro.

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