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‘Dunkirk’: a batalha perdida que mudou os rumos da II Guerra

O filme do inglês Christopher Nolan abdica dos efeitos e investe na ação real para mostrar o resgate épico de soldados aliados sob cerco nazista na França

Por Isabela Boscov Atualizado em 23 jul 2017, 08h00 - Publicado em 23 jul 2017, 08h00

Reportagem da edição de VEJA que circula nesta semana fala sobre o filme Dunkirk. Um das grandes estreias de cinema do ano, a produção dirigida pelo inglês Christopher Nolan – de A Origem, Interstelar e a trilogia Cavaleiro das Trevas – conta a história de uma das batalhas mais famosas da II Guerra Mundial. Nolan extrai uma história intensa: entre 26 de maio e 4 de junho de 1940, nove meses após o início da II Guerra Mundial, os Aliados sentiram-se perto de ser engolfados pelo III Reich. Quase meio milhão de homens pereceriam em Dunquerque; refazer os Exércitos seria impossível à Inglaterra, e mais ainda à França, já fervilhando de alemães. O desespero absoluto foi revertido pelas centenas de ingleses e inglesas que, no 4 de junho, saíram de casa para ir à guerra e atravessaram o Canal da Mancha em barquinhos de pesca, lanchas, botes, iates de passeio e traineiras para carregar eles mesmos os soldados para a Inglaterra, ou então levá-los até navios maiores em alto-mar. A conta oficial é de 340 000 homens salvos: a maior operação de resgate já registrada, e uma vitória épica arrancada aos dentes mesmo da derrota. “Meu plano era fazer um filme com ritmo diferente de qualquer coisa que eu já houvesse feito – ou mesmo visto”, diz Nolan em entrevista a VEJA. O diretor desenvolveu uma estrutura narrativa em que vários pontos de vista subjetivos são contrastados, e desenrolam-se em três janelas de tempo. Seu intuito é manter o espectador no mesmo estado de suspense que as pessoas envolvidas na ação estariam experimentando.

Nolan é um diretor que se atira à tarefa de expandir o escopo técnico e narrativo do cinema. Mas aqui ele atinge um virtuosismo e um impacto fora até de seus padrões: rodado em 70 milímetros, no sistema Imax, com o mínimo de efeitos digitais, até 4.000 figurantes em cena e ação real, captada em câmera, Dunkirk é ambicioso e majestoso como quase nada mais o é hoje. Com isso, ele oferece o melhor retrato de um episódio da II Guerra raras vezes explorado a fundo no cinema. “Houve enormes desafios físicos e logísticos, na maioria advindos da decisão de usar ação real captada com a câmera. Isso implicou semanas de filmagem com equipe e elenco expostos às intempéries. Mas reclamar de desconfortos seria deplorável: eles foram triviais e insignificantes em comparação com o que os milhares de homens acuados na praia de Dunquerque passaram”, diz o cineasta.

Assinalada pelo primeiro-ministro Winston Churchill com um discurso arrebatador (“Lutaremos nas praias, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas; não nos renderemos jamais”), a evacuação de Dunquerque transubstanciou a calamidade. Sem a união instigada por ela, os ingleses talvez não tivessem resistido aos dezoito meses que se passariam ainda para os americanos.

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