Eles ficam calminhos: Bubble Fidget Toys viram febre entre as crianças
A novidade é também um presente para os pais, já que proporciona relaxamento aos pequenos e tranquilidade aos adultos
O plástico-bolha, assim como muitas outras invenções, é resultado de um acidente. Em 1957, ao tentar produzir um papel de parede que fosse texturizado e de fácil limpeza, os engenheiros Marc Chavannes e Alfred Fieldings acabaram criando uma forma lúdica de reduzir o stress — além, é claro, de colocar no mercado um produto que protege artigos frágeis de risco ou quebra durante o processo de transporte. Mais de meio século depois, passar um tempo estourando as pequenas bolhas de ar prensadas continua a ser uma atividade relaxante, capaz de descansar a mente. E a nova febre de diversão entre a criançada parece contar com os mesmos atributos. Compactos, coloridos e de diversos formatos, os Bubble Fidget Toys estão incluídos na categoria dos brinquedos sensoriais, como são chamados aqueles que estimulam os sentidos, e que têm por finalidade acalmar os pequenos. Para a felicidade dos pais, eles caíram no gosto das crianças e já figuram entre os itens infantis mais vendidos do mundo.
De acordo com dados do Google Trends, a procura pelo termo “fidget toys” na categoria de compras vem crescendo no mundo desde novembro do ano passado. No Brasil, o interesse pelo brinquedo apareceu mais tarde, em meados de maio de 2021, mas desde então não para de aumentar. Segundo dados do Buscapé, site de pesquisa de preços e centro de comércio virtual, houve um aumento de 215% na busca pelos brinquedos sensoriais de maio para junho. No gigante de comércio eletrônico Shopee, os números são relativos a um período um pouco maior, de janeiro a junho de 2021. O aumento médio mensal foi de 160% nas vendas dos Bubble Fidget Toys, com mais de 1 200 anúncios relacionados ao item.
Coberto por bolinhas que fazem som de estouro ao serem apertadas, o brinquedo tem o mesmo efeito anti-stress gerado pela manipulação do plástico-bolha. Para recomeçar a apertar as bolhas, basta virar a peça de lado. Portanto, é possível passar longos minutos, ou até mesmo algumas horas, divertindo-se com a atividade. É justamente por isso que são chamados, em inglês, de fidget toys. Em tradução livre, seria algo como brinquedos de inquietação e, na interpretação mais correta, brinquedos para relaxamento.
A base por trás desse conceito sustenta-se em dois pontos. O primeiro é a sensação agradável proporcionada pelo toque aliada ao descanso da visão obtidos por meio do equilíbrio de cores das peças. O segundo é o estímulo à realização de movimentos repetitivos, ação capaz de interromper o permanente fluxo de pensamentos, dando uma pausa à mente. Pode-se chegar a um estado de abstração tão grande que o mundo em volta parece não existir. “Adoro ficar apertando meus brinquedos o tempo inteiro”, diz Malu Fernandes, de 9 anos. “Faço brincadeiras diferentes e relaxo”, conta a menina, que divide a diversão com a irmã Melissa, de 7 anos. Além disso, há benefícios periféricos, como o desenvolvimento da coordenação motora, da noção de perspectiva, do plano cognitivo e do foco. “E por serem objetos pequenos e compactos, a criança precisa aprender a controlar sua força, o que aprimora a coordenação motora grossa e fina, ligada à precisão”, diz a pediatra Renata Aniceto, integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Não é de hoje que os Fidget Toys encantam as crianças. Quebra-cabeças e cubos mágicos, por exemplo, entram na categoria pelo fato de terem propriedades sensoriais que auxiliam no desenvolvimento cognitivo e estimularem a conclusão por meio da repetição. Um dos sucessos recentes entre essa modalidade foi o fidget spinner, responsável por cerca de 20% das vendas de brinquedos nos Estados Unidos em 2017. Do ponto de vista de comportamento, o único alerta a ser feito em relação aos brinquedos diz respeito ao risco do consumo exacerbado. “Eles podem se tornar objetos indispensáveis e as crianças passarem a desejá-los cada vez mais, em diferentes versões”, aponta a psicóloga infantil Ceres Araujo. O impulso para a compra, portanto, deve ser refreado pelos responsáveis, até para não transformar algo bom em mais uma fonte de dor de cabeça. Depois de passar um ano e meio de pandemia trancados em casa com crianças inquietas, os pais, afinal, também merecem descanso.
Publicado em VEJA de 28 de julho de 2021, edição nº 2748