Em alta na TV e no cinema, Klara Castanho se projeta como autora juvenil
A atriz já é lida nas escolas públicas
Imagine a cena: no corredor de um supermercado, uma senhora se dirige a uma garotinha de 9 anos e vocifera, à queima-roupa: “Eu não gosto de você!”. O ano era 2009 e o alvo da ira foi a atriz Klara Castanho, que fazia então o papel da vilã mirim Rafaela em Viver a Vida, de Manoel Carlos — nada menos do que a primeira criança pérfida em uma novela da Rede Globo.
A menina não se abalou. “Na verdade, ouvir aquilo me fez bem. Percebi naquela hora que eu era uma atriz de verdade”, recorda ela. Os anos não a desmentiram. Capaz de atuar com competência tanto em cenas dramáticas como em comédia, Klara é uma das atrizes mais festejadas de sua geração. Pois agora, mais de uma década depois do episódio no mercado, ela começa a se projetar também como “uma escritora de verdade”. No ano passado, Meu Jeito Certo de Fazer Tudo Errado (2017), sua estreia literária, foi selecionado pelo Ministério da Educação para integrar o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). Com isso, 106 000 exemplares da obra — escrita em parceria com a ficcionista Luiza Trigo — foram distribuídos nas escolas públicas.
Desde os 12 anos Klara já escrevia textos soltos, que tratavam dos dilemas próprios da idade. “Tomei gosto pela redação na escola e notei que me expresso melhor escrevendo”, diz ela. Em seu primeiro livro, ao contrário do que acontece com colegas famosas, como Maisa Silva — com quem atuou no longa Tudo por um Pop Star (2018) —, Klara preferiu não se prender ao formato “diário”. Meu Jeito Certo de Fazer Tudo Errado investe numa história de formação juvenil. A protagonista, de 14 anos, se muda do interior para a capital e, na tentativa de se encaixar em uma nova turma, toma decisões equivocadas.
Klara, que nasceu na região do ABC, cresceu entre roteiros e personagens. Aos 9 meses, já fazia anúncios. Depois de explodir no horário nobre em Viver a Vida, ela fez outras personagens na Globo, como a sensitiva Clara em Amor Eterno Amor (2012), de Elizabeth Jhin, folhetim das 18 horas, e a sofrida Paulinha em Amor à Vida (2013-2014), novela das 9, de Walcyr Carrasco. A atriz se arriscaria ainda no teatro, em Aprendiz de Feiticeiro (2016), e no cinema — naquele mesmo ano protagonizou a comédia É Fada!, ao lado da youtuber Kéfera. Depois do lançamento de sua obra de estreia, Klara deu uma pausa nas letras para gravar o filme Detetives do Prédio Azul 3. Mas está determinada a voltar à carga. “O retorno dos leitores me fez ter vontade de escrever mais”, diz. “A literatura nos ajuda a ter opiniões.” Klara sabe o que quer.
Publicado em VEJA de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668