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Em carta, Mauricio de Sousa candidata-se à Academia Brasileira de Letras

Quadrinista criador da Turma da Mônica demonstra interesse em ocupar a cadeira 8, que foi de Cleonice Berardinelli

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 mar 2023, 18h54 - Publicado em 15 mar 2023, 10h58

O quadrinista Mauricio de Sousa, de 87 anos, enviou ao presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Merval Pereira, uma carta demonstrando seu interesse em se candidatar à vaga na cadeira 8, que foi de Cleonice Berardinelli, que morreu em janeiro de 2023. Mauricio disputará a vaga com o filólogo Ricardo Cavaliere em eleição que ocorrerá em 27 de abril. Há outra vaga aberta após a morte da escritora Nélida Piñon, que será disputada por Heloísa Helena Oliveira Buarque de Hollanda e Oscar Araripe, cuja eleição será no dia 20 de abril.

A reportagem de VEJA apurou que a carta foi enviada na sexta-feira, 10. Neste ano, o quadrinista celebra os 60 anos da criação da sua personagem mais famosa, a Mônica, inspirada em sua filha. Até o fim do ano, deverá ser lançado uma cinebiografia do autor, com o filho Mauro Sousa interpretando o pai na juventude. Para o ano que vem está previsto o lançamento do filme em live-action do Chico Bento. Em 2022, o filme da Turma da Mônica, Laços, foi o mais visto do ano, com 761.000 espectadores. Os gibis da turminha vendem em média, por ano, cerca de 12 milhões de exemplares.

Leia a carta na íntegra:

Eu tinha entre quatro e cinco anos de idade quando vi uma revista em quadrinhos caída na calçada. Aquelas ilustrações me alegraram de tal forma que pedi aos meus pais que lessem pra mim. Eles começaram a me trazer mais revistinhas de quadrinhos. E toca ler pra mim. Até que minha mãe, muito ocupada com outros afazeres, resolveu me alfabetizar. Em três meses eu já sabia ler e aí foi uma revolução em minha vidinha de criança. Só sei dizer que depois dos gibis fui para os livros de Lobato e na juventude já era rato de biblioteca. Lia um livro por dia. Eça de Queiroz, Machado de Assis, Raquel de Queiroz, Guimarães Rosa… Hoje, aos 87 anos e sendo autor de criação de uma turminha viva vejo o mesmo acontecer em milhões de crianças pelo Brasil sendo estimuladas à leitura pelos quadrinhos e a se alfabetizarem até antes da escola. Em meus encontros nas bienais do Livro e pelas escolas do Brasil peço que quem aprendeu a ler com a Turma da Mônica levante a mão. Todos se levantam. Claro que alguns para me agradar, mas todos se sentem infectados pelo bichinho da leitura.

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Penso que nossa função, como autores, é criar novos leitores.

A ABL é o centro de valorização, não apenas do autor brasileiro, mas do leitor. Sem leitor não há a mágica da literatura. E para se conquistar o leitor, a melhor época é a infância. E este o será para sempre. A Turma da Mônica hoje está em todas as plataformas de comunicação, para não deixar escapar a conexão que o futuro cobrará de todos. Posso dar esta contribuição para que o trabalho da ABL pelo estímulo à leitura por meio de seus imortais seja mais e mais reconhecido, aproximando os leitores dos nossos clássicos também por meio dos quadrinhos.

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Nossos personagens, por esta razão, são emprestados às campanhas importantíssimas no Brasil e no mundo. Projeto com a ONU mulheres e o UNICEF. Em parceria com a UNESCO, ressaltando o direito humano à alfabetização. No projeto Donas da Rua, foram homenageadas diversas escritoras brasileiras, como Clarice Lispector, Maria Firmina dos Reis e Lygia Fagundes Telles. Personagens criados para melhor informar o que é a empatia e a inclusão, como Luca (um garoto que usa cadeira de rodas) e Dorinha (menina cega inspirada em Dorina Nowill), aproveitando a turminha como fonte de credibilidade para gerar a solidariedade e disseminar ensinamentos sobre os muitos amiguinhos com alguma deficiência. Crianças e jovens precisam não apenas serem informados como formados pela magia da literatura e seus incríveis personagens.

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Venho então não pedir apenas participar da eleição para A CADEIRA No. 8 DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, QUE FOI DE CLEONICE BERARDINELLI, mas devolver aos grandes escritores brasileiros que me formaram um pouco do que devo a eles pelo que sou. E os quadrinhos são literatura pura dos tempos modernos onde o desenho se incorporou para conquistar mais e mais leitores. São milhões deles. Darei minha contribuição se assim os imortais também entenderem. Imortais que em algum número estiveram comigo no chá das cinco do dia 9 de março de 2023 para breves conversas até mesmo sobre a natureza do meu trabalho. Eu senti o melhor dos climas desde os primeiros passos e palavras ouvidas dentro da maravilhosa sede da ABL.

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Atenciosamente,
Mauricio Araújo de Sousa.

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