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Em casa, rapper Baco Exu do Blues usa panelaços para fazer música

Músico lançou de surpresa um EP em que critica Bolsonaro, fala de 'BBB' e relembra o meme da Cardi B.

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 Maio 2020, 18h46 - Publicado em 9 abr 2020, 16h32

Assim como boa parte dos brasileiros, o rapper baiano Baco Exu do Blues, nome artístico de Diogo Álvaro Ferreira Moncorvo, 24 anos, também está em casa e aproveitou esse período para lançar de surpresa o EP Não Tem Bacanal na Quarentena com nove músicas gravadas em três dias. O projeto foi a saída encontrada por ele quando o isolamento social impediu que sua equipe finalizasse seu terceiro álbum, intitulado Bacanal. A criatividade, no entanto, não cessou e ele registrou em forma de música tudo o que está vivendo dentro de casa. Desde a torcida por Babu no Big Brother Brasil até memes com a Cardi B.

Nascido em Salvador, Baco vive atualmente em São Paulo, de onde ouviu da sua janela os constantes panelaços contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. A gritaria tem sido tanta, que ele decidiu incluí-las na faixa Tudo Vai Dar Certo. “Eu queria passar isso para as pessoas”, diz a VEJA. A seguir, confira a entrevista com o músico.

Você usou os protestos contra Jair Bolsonaro na faixa Tudo Vai Dar Certo. Afinal, panelaço dá música? Musicalmente, eu não sei. Mas, sentimentalmente, com certeza. Traz um sentimento de esperança muito grande. A primeira vez que eu ouvi um bocado de gente gritando na janela “fora, Bolsonaro” me deu um raio de esperança. E eu queria passar isso para as pessoas. Eu estava ouvindo a música com um amigo e coincidentemente foi no horário do panelaço. O refrão “tudo, tudo vai dar certo” tocava e a gente ouvia a galera gritando.

O EP também tem a música Tropa do Babu, em que você fala do participante do BBB Babu Santana. O reality show entrou na sua rotina por causa da quarentena? Aconteceram algumas coisas com o Babu que me chamaram a atenção. Foi um racismo escancarado e fingiam que não existia. A galera ficou 24 horas por dia reforçando vários esteriótipos. Ele é um grande ator, gente boa, calmo. E as pessoas falando dele de forma pejorativa, como se ele fosse agressivo. Eu me identifiquei com ele, como homem negro. Fiquei estarrecido que o Brasil não tem falado sobre o quanto ele está sendo maltratado lá dentro. Eu comecei a acompanhar o BBB por causa do Babu. Se estivesse naquele lugar, eu sofreria a mesma coisa.

Enquanto o Presidente da República fala que é só uma ‘gripezinha’, uma rapper faz um vídeo mandando lavar a mão e não sair de casa. Isso me levou a pensar que a Cardi B. fez mais pelas pessoas do que o Bolsonaro

Baco Exu do Blues
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Tão peculiar quanto usar o BBB e os panelaços em composições, foi se inspirar no meme em que a rapper Cardi B. grita “coronavairus”. Conte um pouco sobre a faixa Amo Cardi B e Odeio BozoNão é só um meme. Enquanto o presidente da República fala que é só uma ‘gripezinha’, uma rapper faz um vídeo mandando lavar a mão e não sair de casa. Isso me levou a pensar que a Cardi B fez mais pelas pessoas do que o Bolsonaro. A mensagem dela chegou em todos os lugares onde, teoricamente, os alertas que recebemos não chegam. Existem lugares onde a Cardi B. vai chegar e a imprensa não vai. Foi de uma serventia pública gigantesca.

Em O Sol Mais Quente você canta que “coronavírus me lembra a escravidão”. O que quis dizer? Estou falando das pessoas ricas e abastadas que voltaram do exterior contaminando os outros. Foi falta de responsabilidade delas. No começo, só tínhamos relatos de contaminação de pessoas brancas e ricas que estavam fora do Brasil.

O tédio de ficar em casa na quarentena também ajudou a compor um EP em apenas três dias? Tenho muito medo do tédio. Pelo meu estado de depressão, para mim, ficar sem pensar em nada é muito perigoso e eu posso revisitar muita coisa e deixar a minha cabeça uma bagunça.

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As pessoas estão glamorizando a quarentena? Da mesma forma que você está de quarentena em casa, muitas pessoas que estão na rua não têm a chance de parar. Elas querem parar, mas não podem. Estamos em um momento que nem todo mundo está seguro. O que eu percebo é aquele bagulho do “White People Problem” que diz: “Que droga, não vai dar para ir para a Disney esse ano”.

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